Publicado em Africa Can End Poverty

O que será necessário para que África lidere uma reviravolta na educação?

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Uma estatística impressionante coloca em contexto o estado da educação da África de hoje. De acordo com a mais recente State of Global Education Update (Atualização do Estado da Educação Global), quase 9 em cada 10 crianças na África Subsaariana com 10 anos não conseguem  ler e entender um texto simples. Globalmente, 70% não conseguem executar essa tarefa – percentagem esta que era de 57% antes da pandemia da Covid-19. As crianças que estiveram sem ir à escola não aprenderam o que deveriam e, nalguns casos, até esqueceram as competências que tinham adquirido anteriormente. Esta perigosa situação continua: Cerca de 160 milhões de estudantes nos países da África Oriental e Austral ficaram sem ir à escola durante algum tempo devido ao fecho das escola ocasionado pela pandemia da Covid, e cerca de 34% das raparigas adolescentes continuam hoje a não ir à escola. No Dia Internacional da Educação, gostaria de contribuir para o esforço global para destacar esta grande crise de aprendizagem e realçar a importância e a urgência dos esforços focados em trazer as crianças de volta para a escola e acelerar a recuperação e o progresso da aprendizagem.

Mesmo no contexto de crises concorrentes - inflação, energia, segurança alimentar, clima, - esta é uma crise demasiado grave para ser ignorada. O ensino básico, mas também o secundário, terciário e técnico e vocacional, determinará a capacidade desta geração conseguir emprego e contribuir para o crescimento económico no futuro. A não integração de milhões de crianças e jovens em atividades produtivas, numa economia global cada vez mais baseada em conhecimento e competências digitais (com um potencial de  mais de 230 milhões de empregos que exigirão competências digitais em África até 2030), pode muito bem resultar em agitação social daqui a alguns anos - um cenário que nenhum decisor político deseja enfrentar.

Experiências recentes na África Oriental e Austral mostram que o progresso é possível mesmo perante múltiplas adversidades, como orçamentos apertados, elevado crescimento demográfico e normas culturais que restringem as oportunidades para as mulheres e raparigas. Financiamentos da Associação Internacional de Desenvolvimento, o fundo do Banco Mundial para as economias mais pobres, que concede empréstimos e subvenções com juros baixos, foram utilizados nos últimos anos - inclusive durante a pandemia da CoviD-19 - para:

  • construir 22.500 novas salas de aula no Ruanda entre 2019 e 2022
  • matricular mais 2,3 milhões de alunos em escolas primárias gratuitas na República Democrática do Congo durante o ano letivo de 2021-2022
  • aumentar em 75% o número de estudantes matriculados em programas de educação superior credenciados em Mozambique entre 2018 e 2022
  • dar a 27.000 raparigas adolescentes e mulheres na Somália uma mistura de competências de alfabetização, numeracia, de vida e vocacionais que lhes permitirão melhorar os seus meios de subsistência
  • e aumentar significativamente o número de centros de recursos educacionais inclusivos (de 113 em 2017 para 1.050), apoiando mais de 61.000 crianças com necessidades especiais na Etiópia.

Estes exemplos, e muitos outros, são descritos mais detalhadamente na história imersiva publicada hoje para inspirar a esperança no meio de um prognóstico gritante e terrível de perdas de aprendizagem e insuficiências para os empregos. Mas essas intervenções são apenas uma parte da solução. A transformação da apetência pela aprendizagem exige um forte compromisso político a longo prazo para liderar as necessárias reformas políticas, o aumento dos financiamentos e a alteração das normas sociais.

No Dia Internacional da Educação, junte-se ao meu apelo para ampliar os resultados comprovados e fazer mais para expandir o acesso às escolas, equipar mais jovens com uma educação de qualidade e as competências necessárias e tão solicitadas e capacitar todas as crianças, qualquer que seja o seu género ou nível de capacidades, para que ninguém fique para trás. Juntos, podemos arregaçar as mangas e liderar uma reviravolta na educação!


Autores

Victoria Kwakwa

Vice President, Eastern and Southern Africa

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