Publicado em Africa Can End Poverty

Reestruturação do Comércio Africano com a União Europeia e os Estados Unidos: O Sucesso exige Reformas de Ambos os Lados

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The Port of Banjul in The Gambia plays a vital role in the trade and distribution of cargo to neighboring countries, some of which are landlocked. The Port of Banjul in The Gambia plays a vital role in the trade and distribution of cargo to neighboring countries, some of which are landlocked.

África enfrenta um clima de comércio global em mudança contínua, que traz novos desafios e oportunidades para se aumentar o crescimento e reduzir a pobreza. A proliferação de acordos comerciais regionais, frequentemente à custa do sistema comercial mundial (OMC), a quarta Revolução Industrial e o subsequente aumento de tecnologias de poupança de mão-de-obra, a ascensão da Ásia como a nova fronteira económica, a maior fragmentação da produção e as rápidas alterações nas cadeias de valor globais (CVG) dominam as tendências emergentes. Mais recentemente, as interrupções na cadeia de fornecimento, a guerra na Ucrânia e os choques nos preços das matérias-primas exacerbaram as vulnerabilidades da região África.   

A África Subsariana (ASS) representa apenas 2% da produção e 3% do comércio mas é responsável por 17% da população mundial, um contraste impressionante. Então, como pode África expandir o seu acesso ao mercado de exportações e promover a diversificação de mercados para novas regiões e novos produtos, reforçando em simultâneo o comércio regional, neste novo ambiente de comércio? O livro intitulado África no Novo Ambiente Comercial: Acesso ao Mercado em Tempos Conturbados analisa três temas centrais em busca de respostas.

Neste blogue, destacamos o primeiro dos três temas, ficando os outros dois para serem discutidos em blogues posteriores.

A Reestruturação do Comércio com a União Europeia e os Estados Unidos Exige Reformas dos dois Lados

A União Europeia (UE) e os Estados Unidos (EUA) continuam a ser os maiores parceiros comerciais da região África.  A reorganização do comércio com as duas regiões é de fundamental importância para a participação de África nas cadeias de valor mundiais. As preferências comerciais unilaterais, tais como a Lei de Oportunidades e Crescimento (AGOA) e a iniciativa Tudo Menos Armas (EBA), têm potencialidade para promover a transformação económica através das exportações. Contudo,  os níveis de utilização destes programas são sistematicamente baixos. Os recursos naturais, sobretudo o petróleo, são responsáveis pela maioria das exportações africanas através deste regime de preferências. O segundo maior aumento foi nas exportações de produtos têxteis e de vestuário. As exportações de artigos de vestuário de África cresceram rapidamente nos primeiros anos da AGOA e estacionaram depois do fim do Acordo Multifibras em 2005, com a erosão relativa da preferência decorrente da concorrência da Ásia. Os países africanos conseguiram apenas um sucesso limitado na exportação de manufacturas através destas preferências.

Há uma diversidade de experiências relativamente à utilização da AGOA na região, que vai desde aqueles que perderam completamente a oportunidade (África Central e Ocidental), aos que registaram um crescimento robusto no início ou um declínio abrupto ou estagnação (muitos na África Austral), e aos retardatários que registaram um progresso robusto (países da África Oriental, incluindo a Etiópia e o Quénia). Os países com melhores infraestruturas, incluindo transportes e conectividade, instituições mais fortes de enquadramentos legais tais como a execução de contratos e protecção dos direitos de propriedade, e gestão macroeconómica de qualidade com taxas de câmbio estáveis e competitivas e baixa inflação registaram ganhos decorrentes desses acordos, sugerindo assim a necessidade de reformas nestes domínios.

É também necessário que os países que concedem a preferência (EU e EUA) reformulem estes acordos. Incluem-se o alargamento dos protocolos mais liberais (a segunda cláusula da AGOA, por exemplo) aos países que não os menos desenvolvidos na região África e a expansão da lista de produtos preferenciais para as indústrias, onde muitos países africanos podiam ter uma vantagem comparativa. Alterações a nível da indústria e de sectores específicos da AGOA e da EBA, que incentivam a competitividade das exportações da região, representam oportunidades adicionais.

Adicionalmente, reduzir incertezas sobre a continuidades destes sistemas de preferência é fundamental para atrair investimento directo estrangeiro de longo prazo para a região, destinado a explorar o seu potencial de exportação. A revogação abrupta das preferências, como aconteceu no passado em Madagáscar e Costa de Marfim e mais recentemente na Etiópia podia inverter os ganhos conquistados. É essencial integrar as preferências com outras iniciativas para aprofundar o comércio e o investimento entre os países africanos e os EUA e a EU. Isto inclui a integração de preferências com instrumentos de políticas de ajuda externa para equacionar os desafios estruturais que limitam a capacidade de exportação. Iniciativas recentes, tais como o Compact with Africa (CwA) , com um forte enfoque no que toca a melhorar o clima de negócios, criar infraestruturas e promover regulamentos e instituições eficazes estão em harmonia com esta abordagem abrangente.

Para além da AGOA, é fundamental alterar o actual emaranhado de acordos comerciais que trespassam os acordos comerciais para um contrato mais simplificado com os “Vizinhos Africanos” – parceiros comerciais naturais que estão histórica, sociológica e geograficamente próximos – como um incentivo para uma cooperação regional mais próxima. Os acordos comerciais existentes com países africanos individuais tendem a reforçar a fragmentação económica e política que há muito têm vindo a asfixiar as perspectivas de maior integração da região. Fazer contratos com os vizinhos africanos iria facilitar redes de produção sub-regionais, incentivar iniciativas de cooperação sub-regional e ajudar a reduzir o risco de conflitos transfronteiras fazendo aumentar a interdependência económica dos países membros.


Autores

Souleymane Coulibaly

Program Leader and Lead Economist for Central Africa

Albert Zeufack

World Bank Country Director for Angola, Burundi, the Democratic Republic of Congo (DRC) and Sao Tome and Principe

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