"A educação é a arma mais poderosa que se pode usar para mudar o mundo", disse Nelson Mandela. Concordamos, especialmente quando essa mudança é no sentido de um mundo livre de pobreza extrema.
Em todo o mundo, as pessoas com mais educação têm menos probabilidades de viver na pobreza. De acordo com o Relatório sobre Pobreza, Prosperidade e Planeta 2024, um quinto das pessoas com 15 ou mais anos de idade sem educação formal vive em situação de pobreza extrema, em comparação com apenas 3% das pessoas com educação superior. Na África Subsariana, as proporções são mais elevadas, mas os padrões são semelhantes.
O nosso último Relatório Africa Pulse, uma publicação semestral sobre os atuais desafios económicos de África, centra-se na educação como uma questão fundamental que molda o futuro económico da região. Nesta edição, intitulada "Transformar a Educação para um Crescimento Inclusivo", mostramos que proporcionar um ensino básico universal, que assegure uma aprendizagem fundamental completa, pode conduzir a uma maior produtividade e duplicar o Produto Interno Bruto (PIB) per capita até 2050. Para os indivíduos, um ano extra de educação aumenta os rendimentos em 12,4% na África Subsariana, em comparação com 10% a nível mundial. Os ganhos são ainda maiores para as mulheres, que obtêm um aumento de 14,5% no rendimento.
No entanto, a educação está em crise na África Subsariana: 7 em cada 10 crianças não têm acesso ao ensino pré-primário e quase 9 em cada 10 crianças na África Subsariana não são capazes de ler e compreender um texto simples aos 10 anos de idade, face a uma média de 7 em cada 10 crianças noutros países de baixo e médio rendimento. Cerca de um terço das crianças abandonam a escola primária devido a pressões económicas, casamentos precoces e más instalações escolares. Cerca de 60% dos adolescentes mais pobres não frequentam a escola.
Atualmente, as escolas ainda carecem frequentemente de recursos essenciais, como livros escolares, materiais didáticos e tecnologia, ou não os utilizam eficazmente. Apesar dos recentes aumentos na despesa com a educação, os atuais níveis de despesa não são suficientes para cumprir os objetivos nacionais e globais em matéria de educação: em 2021, 29 países de baixo rendimento (a maioria em África) gastaram em média apenas 54 dólares por aluno, enquanto os países de elevado rendimento gastaram cerca de 8.500 dólares por aluno. Aos 18 anos, uma rapariga que cresça hoje na África Subsariana terá frequentado a escola durante 8 anos, comparativamente a 13 anos num país de rendimento elevado. Durante esse tempo, o governo da África Subsariana terá despendido cerca de 1.900 dólares para a educar, e quase todo esse dinheiro será aplicado em salários. Em contraste, um governo num país de rendimento elevado terá gastado cerca de 117.000 dólares, ou seja, 60 vezes mais, com uma proporção significativa utilizada em recursos de aprendizagem para apoiar professores e alunos, para além de pagar aos professores.
Esta crise de aprendizagem explica o índice de capital humano da região - a produtividade que uma criança nascida hoje alcançará aos 18 anos depois de receber um suplemento completo de educação, nutrição e saúde – que se situa em 40%, estando entre os mais baixos do mundo.
Olhando para o futuro, prevendo-se que a população em idade ativa duplique até 2050, a região tem uma oportunidade única de transformar os resultados da educação, aumentar as competências da força de trabalho, acrescentar 11-15% ao PIB até 2030 e retirar 40 a 60 milhões de pessoas da pobreza. É igualmente urgente proporcionar aos jovens competências técnicas, profissionais e de nível superior que lhes permitam adotar novas tecnologias e inseri-las na economia regional.
Então, o que é que se deve fazer?
No nosso último Relatório "Africa's Pulse", recomendamos que se concentrem esforços e investimentos na transformação dos sistemas educativos da África Subsariana em três áreas fundamentais:
- Investir na aprendizagem fundamental, começando pela universalização da educação na primeira infância, e na proficiência em literacia e numeracia, e manutenção das populações vulneráveis - em particular as raparigas adolescentes - na escola.
- Assegurar que os programas de desenvolvimento de competências oferecem uma grande variedade de programas, são relevantes e respondem às necessidades económicas locais.
- Apoiar a transição dos jovens da escola para um emprego remunerado.
Isto exige que os governos e os parceiros de desenvolvimento gastem mais, mas ainda mais urgente é que gastem de forma mais eficiente. A janela de oportunidade para transformar a crescente população africana em idade ativa num poderoso ativo económico não estará aberta para sempre. Chegou a altura de investir de forma inteligente e começar a trabalhar.
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