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Nosso sistema alimentar precisa de informações corretas - como garantimos isso?

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Photo: CIF Action/Flickr
Para a maioria das pessoas, assistir à previsão do tempo na TV é uma atividade corriqueira, sem riscos e, às vezes, divertida. O apresentador até faz piadas! Porém, quando a sua renda depende da chuva ou da temperatura, a previsão passa a ser mais do que uma atividade meramente lúdica. Muitas vezes, essas informações são decisivas para o trabalho dos agricultores. Eles se inteiram sobre os riscos que enfrentarão mais à frente e, assim, podem planejar o plantio, a colheita, o uso de insumos (como fertilizantes e pesticidas), atividades agropecuárias e vendas no mercado com base em boletins meteorológicos e dados sobre preços, pragas e doenças locais, mudanças nos regulamentos e na disponibilidade e condições de crédito, entre outros.

A disponibilidade e a qualidade das informações sobre riscos agropecuários são de enorme importância para os agricultores; se estiverem erradas, isso custará caro para eles, que podem acabar tomando más decisões e perdendo dinheiro. Sistemas com fontes não confiáveis ​​e / ou protocolos deficientes de processamento de dados produzem resultados não confiáveis, independentemente da complexidade do modelo de processamento. Em outras palavras, seria uma situação garbage in, garbage out - "entra lixo, sai lixo. ” A informação é uma parte integrante da gestão do risco agrícola, não só em curto prazo - na proteção contra eventos adversos de grande porte - mas também em médio e longo prazo, na adaptação às mudanças climáticas e adoção de práticas agrícolas que protegem o clima. Programas agrícolas inteligentes e políticas de gestão de riscos agropecuários não adiantarão nada se os agricultores não tiverem os conhecimentos para subsidiar as mudanças necessárias.

O investimento em sistemas de informação de riscos agropecuários é uma maneira econômica de garantir que os agricultores - e outros atores da cadeia de fornecimento de alimentos - tomem as decisões certas. No entanto, na maioria dos países, os sistemas de informação de riscos agrícolas sofrem de falta de capacidade e financiamento. O México, um país com um setor agrícola importante, não tem informações sobre os preços de mercado de produtos agrícolas, como o milho. O Banco, por isso, lançou um projeto que visa fortalecer a capacidade do país nesse setor. O México não está sozinho. A Argentina resolveu esse mesmo problema recentemente, com o apoio do Banco Mundial, ao criar um sistema de informação com os preços de mercado de grãos básicos.

Nas áreas rurais do Nordeste brasileiro, a taxa de acerto das previsões do tempo equivale à de um lance de cara ou coroa. A maioria dos relatórios meteorológicos erra a previsão. No entanto, o problema é na entrega das informações, não na fonte. A FUNCEME, instituição que coleta e modela as informações agroclimáticas do Nordeste do Brasil, trabalha com níveis de precisão acima de 70%, mas essas informações não são divulgadas diretamente à população e, às vezes, são interpretadas incorretamente pelos veículos de comunicação. Aqui, mais uma vez, um projeto do Banco Mundial visa reverter essa situação, melhorando os canais que levam informações diretamente aos agricultores por meio de tecnologias de telefonia celular.

A boa notícia é que os governos estão se dando conta da importância das informações sobre o risco agrícola, não apenas como serviço público, mas também para o agronegócio, pois os produtores precisam das melhores informações possíveis para evitar interrupções nas atividades comerciais. O setor privado também contempla as oportunidades apresentadas pelas informações agrícolas. Algumas start-ups, como a Agrinsurance, oferecem serviços informativos e trabalham com empresas de seguro agrícola. Além disso, o Banco Mundial e outras entidades vêm elaborando avaliações e estratégias de gestão de riscos agropecuários  para países do mundo inteiro. Fica clara a necessidade de fortalecer os sistemas de informação. Mas como fazer isso?

Existem vários modelos. Um deles é aquele em que o setor público coleta, limpa e dissemina as informações, e até cria aplicativos e canais de acesso para os agricultores. A Embrapa vem adotando essa abordagem no Brasil, desenvolvendo modelos bastante complexos - como o CONPREES, com o apoio do Banco Mundial - para prever com maior precisão se determinada cultura sofrerá perdas por razões climáticas em municípios e anos específicos.

Uma segunda abordagem é coletar e limpar as informações e disponibilizá-las em forma bruta para o setor privado desenvolver as ferramentas analíticas de modo a apresentar as informações aos agricultores e outros atores. É isso que a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (em inglês, National Oceanic and Atmospheric Administration/NOAA) faz com as informações de sensoriamento remoto nos Estados Unidos.

Finalmente, existe a abordagem de integração, em que o governo associa sistemas de informação espalhados por várias instituições públicas e privadas, os consolida e apresenta ao público de forma coerente. É o que a Argentina vem fazendo, formando parcerias público-privadas (PPPs) com instituições locais do setor privado que têm suas próprias redes de informação agroclimática, para integrar os dados com a rede pública e adquirir mais densidade e séries temporais históricas.

Os países podem adotar combinações desses modelos ou abordagens, mas é importante ressaltar que o setor privado vem participando cada vez mais do mercado de informações sobre risco. Os governos não podem ignorar esse fato; na realidade, devem abraçá-lo. Mas, para que não "saia lixo" dos serviços de informação sobre risco agrícola, é importante que as instituições públicas garantam bons dados e a disseminação adequada das informações para os agricultores.
 
O diagrama abaixo propõe uma estrutura de componentes a serem implantados nos serviços nacionais de informação agrícola para garantir a alta qualidade das informações sobre risco. Enquanto isso, da próxima vez que você ouvir a previsão do tempo, saiba que, para algumas pessoas, o assunto é importante. Os agricultores - e o sistema alimentar - dependem dele.
 
Integração Garantir que as redes já existentes no país estejam integradas, mesmo que sejam de instituições distintas. Para tal, talvez sejam necessários
Integridade Após a coleta, os dados podem ser adulterados?
Completude Garantir que as séries de dados históricos e espaciais estejam completas. Se faltarem dados, definir protocolos para preencher as lacunas, empregando metodologias reconhecidas pela indústria e validadas por especialistas.
Acessibilidade Os usuários devem ter acesso aos dados atuais e históricos e à possibilidade de reutilizar os dados da forma que lhes convier, nas análises e nos serviços. Talvez seja necessária a criação de uma plataforma de ligação com ferramentas online desenvolvidas por terceiros.
Modularidade Possibilitar a incorporação de módulos e seções ao sistema, à medida que novas variáveis e / ou informações se tornarem disponíveis.
Tempestividade Para que as informações tenham valor para os seguros agrícolas e sirvam para a atualização das previsões meteorológicas (entre outros), elas devem ser disponibilizadas com rapidez.
Rastreabilidade O sistema de informação precisa ser facilmente rastreável até a fonte, com a implantação de protocolos claros.

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