Boas estradas mudam vidas: uma história brasileira

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Como melhores rodovias podem mudar a vida da população? Quanto os projetos rodoviários beneficiam as pessoas? As respostas a essas perguntas aparentemente simples são na verdade bem mais complicadas do que parecem.

O Banco financiou melhoramentos nas rodovias vicinais de Tocantins (Brasil) e, durante 10 anos, avaliamos os impactos socioeconômicos desse trabalho em domicílios pobres e rurais. Como conseguimos realizar a avaliação? E quais impactos foram verificados?

O estudo utilizou uma metodologia usada tradicionalmente em avaliações de impactos no setor social e se baseou em uma pesquisa feita no Vietnam. Em Tocantins, um dos estados menos desenvolvidos e populosos do Brasil, a maioria das rodovias municipais carece de pavimentação e manutenção adequadas. O projeto do Banco financiou a construção de 700 pontes de concreto e 2.100 bueiros atravessando rios e cursos d’agua, permitindo que a população rural mais isolada tivesse acesso aos centros urbanos durante todo o ano. Antes, era impossível fazê-lo durante a época de chuvas.

O projeto previa os seguintes resultados: o melhoramento da acessibilidade física contribuiria para aumentar os deslocamentos a mercados, escolas e serviços de saúde. Em seguida, isso promoveria educação, saúde e melhores oportunidades de negócios. Finalmente, resultaria no aumento da renda domiciliar a longo prazo.

Nosso estudo adotou a metodologia “diferença em diferenças com combinação”. O método comparou o grupo de tratamento (a população beneficiada pelo trabalho) e o grupo de controle (população que não passou pelas intervenções), assegurando que as amostragens tivessem características socioeconômicas similares (ou comparabilidade). Posteriormente, aplicou-se a metodologia “estimativa de variável instrumental” para confirmar a robustez dos resultados.

Os resultados mostram impactos positivos socioeconômicos para a população rural e geram algumas implicações para as políticas públicas:
  • A qualidade de transporte melhorou com mais opções de modais de transportes. Mais domicílios passaram a ter bicicletas e automóveis;
  • Mais meninas começaram a frequentar a escola. Espera-se que isso contribua para aumentar as oportunidades de empregos para as mulheres a longo prazo;
  • O projeto também ajudou a aumentar o número de empregos agrícolas e a renda domiciliar.
Quais os maiores desafios encontrados pela avaliação? Podemos tirar lições para o futuro?       

Em primeiro lugar, alguns impactos previstos a longo prazo exigiriam prazos mais longos que os possíveis neste estudo, no qual as pesquisas foram realizadas alguns anos depois da conclusão das obras. Já em pesquisas de mais longo prazo, a comparabilidade dos dois grupos talvez ficasse comprometida, pois fatores externos poderiam influenciar diferentemente as características dos dois grupos.

Segundo, as amostragens podem ser facilmente enviesadas porque os beneficiários dos projetos de transporte não são selecionados aleatoriamente, mas de forma dirigida. Para assegurar a comparabilidade, é recomendado realizar uma pesquisa de campo preliminar para identificar adequadamente os grupos com características semelhantes.

Terceiro, o questionário precisa ser adequado aos impactos que se esperam dos projetos. Por exemplo, este estudo intencionava medir as mudanças nas distâncias, mas teria sido mais relevante medir a frequência de impedimento de viagens.

Finalmente, necessitamos uma boa dose de pragmatismo para tratar questões operacionais imprevistas durante a implementação das pesquisas. No nosso estudo, o governo decidiu não entrevistar o grupo de controle para evitar a criação de uma expectativa desnecessária aos não beneficiários.

Para compensar a ausência de um grupo formal de controle, antes do fim das obras fizemos uma segunda etapa de entrevistas com algumas comunidades do grupo beneficiário. Essa medida permitiu criar um grupo de controle de fato, o que por sua vez reduziu o risco de haver um viés de amostragem.

Esse tipo de estudo a longo prazo é desafiante, mas ainda é extremante valioso para medir os impactos de projetos e políticas públicas.      

Para mais informações, leia o relatório Avaliando os impactos sociais e econômicos das melhorias das rodovias rurais do estado de Tocantins, Brasil.  

Autores

Satoshi Ogita

Senior Transport Specialist

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