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Etiópia e Moçambique podem aprender com o Brasil sobre o uso sustentável das florestas na promoção do crescimento econômico?
Sim, graças a um programa recente de intercâmbio de conhecimentos!
Como se pode imaginar, as exuberantes áreas verdes e florestas plantadas da África têm um potencial enorme; porém, o setor enfrenta grandes barreiras à expansão: a falta de acesso à terra e financiamento de longo prazo acessível e o baixo grau de prioridade do setor, entre outros.
Tomemos, por exemplo, o caso da Etiópia. Cerca de 66,5 milhões de metros cúbicos do país (correspondentes a 46% do total da procura por madeira e combustível) são florestas naturais e vegetações sujeitas a atividades de extração não-sustentáveis, que resultam no desmatamento e na degradação da terra. Em Moçambique [3], o carvão ainda é produzido a partir de florestas nativas, gerando enorme pressão sobre os recursos naturais, muito além de sua capacidade de regeneração. Os dois países querem entender como o setor florestal pode contribuir para os seus respectivos planos nacionais de desenvolvimento, promover o crescimento econômico e reduzir a pobreza rural com sustentabilidade ambiental.
Este tema ganha ainda mais relevância ao celebrarmos o Dia Internacional das Florestas, no dia 21 de março. A ocasião ajuda a aumentar a conscientização da necessidade de preservar as florestas e usar estes recursos naturais de forma responsável e sustentável.
Na África, a procura doméstica por produtos florestais vem aumentando; também há um potencial enorme de exportação de celulose e papel. Porém, para atender a esta procura, são necessários uma política favorável e um arcabouço jurídico para apoiar o setor, gerar empregos e contribuir para a sua sustentabilidade ambiental.
É aí que entra o Brasil. O país sul-americano possui 7,6 milhões de hectares de florestas plantadas e foi responsável por 17% de toda a madeira extraída no planeta e - o que é muito importante - 630 mil empregos em 2013. Na década de 60, motivado pela política nacional de substituição de importações por produtos nacionais, o Brasil criou subsídios para promover os plantios florestais e gerar combustível para as indústrias de ferro-gusa. O resultado foi impressionante - entre 1964 e 2013, foram mais de 7 milhões de hectares de florestas plantadas.
A recente troca de conhecimentos sul-sul possibilitou a visita de representantes dos setores público e privado da Etiópia e de Moçambique aos estados brasileiros de São Paulo e Espírito Santo, para aprender com o país as melhores formas de fazer uso de produtos florestais de modo sustentável.
Durante a nossa visita, testemunhamos a eficiência da cadeia de fornecimento brasileira - incluindo o plantio, a colheita, o processamento, a distribuição e o consumo final. Nós visitamos um pequeno agricultor de São Paulo que cultiva eucalipto e depois o transforma em carvão vegetal para vender em supermercados. No outro extremo, visitamos a Fibria, a maior fábrica de pasta de celulose do país, com 4,7 milhões de toneladas de celulose produzidos em 2013.
São Paulo é outro exemplo de sucesso. Por determinação do estado, os usuários de lenha – como, por exemplo, fábricas de cerâmica, padarias e pizzarias - pagam uma taxa para compensar o uso desse combustível renovável. Essa taxa - que é transferida para associações florestais - foi usada para criar plantações florestais de alta qualidade. No Espírito Santo, pequenos agricultores que replantam árvores nativas, adotam sistemas agroflorestais, contribuem para o abastecimento hídrico e preservam as florestas nativas recebem quase $3 milhões do estado pela prestação de serviços do ecossistema.
A falta de engajamento é outro desafio enfrentado pelo setor florestal na África. Enquanto o setor privado enfrenta problemas de captação de novas tecnologias e ampliação de melhores práticas, as instituições não conseguiram engajar, efetivamente, os pequenos agricultores em serviços de extensão e em planos de plantação e colheita de alta produtividade.
Tanto a Etiópia quanto Moçambique estão se esforçando para reduzir as emissões decorrentes do desmatamento e da degradação florestal e têm a possibilidade de experimentar com instrumentos de financiamento diversos.
A Etiópia está buscando formas de integrar o setor florestal em seus planos de crescimento e transformação, enquanto Moçambique avalia opções de políticas para melhorar o ambiente de negócios e atrair investimentos privados em florestas plantadas. Sejam quais forem as opções, os governos precisam de orientações claras sobre o que é permitido (em termos de plantio) e maneiras de garantir o cumprimento de tais orientações.
E, claro, feliz Dia Internacional das Florestas!
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