Calor urbano extremo: uma ameaça crescente para as cidades da América Latina

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Calor urbano extremo: uma ameaça crescente para as cidades da América Latina Vista da Cidade do México. Foto: Jessica Belmont/Banco Mundial

De Cidade do México a Santo Domingo e Buenos Aires, uma nova realidade climática está tomando forma. As temperaturas médias nas cidades da América Latina e do Caribe já subiram até 1,5 °C desde 1950. Os dias quentes se multiplicam, as ondas de calor recordes se tornam cada vez mais frequentes. Isso deixou de ser apenas uma questão de conforto: é uma questão de saúde, bem-estar e sobrevivência.

O relatório do Banco Mundial Inabitáveis – Enfrentando o calor urbano extremo na América Latina e no Caribe revela que o aumento das temperaturas já está transformando o funcionamento das cidades, ameaçando vidas, sobrecarregando a infraestrutura e colocando as economias em risco. O documento também apresenta um conjunto de soluções que podem proteger as pessoas e promover cidades mais seguras e habitáveis.

O calor mata. Ele pode atacar de forma repentina — por meio de insolação ou acidentes —, mas com mais frequência seus danos são silenciosos: afeta o coração, os pulmões, os rins e outros órgãos, reduz a expectativa de vida e acelera a morte entre os mais vulneráveis. Somente em 2023, estima-se que 48.000 pessoas com mais de 65 anos tenham morrido prematuramente por causas relacionadas ao calor na região.

As cidades estão no epicentro dessa crise. A América Latina e o Caribe representam uma das regiões mais urbanizadas do mundo, com mais de 80% da população vivendo em áreas urbanas. Bairros densamente povoados retêm o calor, enquanto o concreto e o asfalto tomam o lugar dos espaços verdes, e moradias precárias expõem milhões de pessoas a temperaturas internas perigosas. Os lares mais pobres são, em geral, os que sofrem os impactos mais severos.resiliência

A infraestrutura urbana também está sob pressão. As redes elétricas falham devido à alta demanda por refrigeração, o transporte público superaquece e as escolas são obrigadas a reduzir horários ou fechar durante os picos de calor. Essas falhas geram custos econômicos significativos, pois o calor extremo reduz a produtividade e corrói o capital humano. Sem ação urgente, as perdas do PIB urbano poderão ultrapassar 5% entre 2040 e 2050.

Soluções que protegem as pessoas e os empregos

Os impactos são graves, mas há soluções. As cidades podem se refrescar por meio do desenho urbano: plantar árvores, ampliar parques e corredores verdes, utilizar telhados reflexivos ou verdes e redesenhar ruas para permitir sombra e ventilação. Os edifícios podem se tornar mais habitáveis com técnicas de resfriamento passivo, enquanto investimentos em transporte público, sistemas de energia e habitação podem prevenir interrupções nos serviços e salvar vidas.

No entanto, a resiliência ao calor não se trata apenas de infraestrutura, mas também de proteger as pessoas e seus meios de subsistência. Até 70% dos trabalhadores na América Latina e no Caribe estão expostos ao calor extremo, especialmente nos setores de construção, agricultura e empregos urbanos informais. Protegê-los requer regulamentações adequadas de saúde e segurança ocupacional, sistemas de proteção social adaptativos que respondam à perda de renda durante as ondas de calor e sistemas de alerta precoce baseados em impactos que priorizem a segurança dos trabalhadores.

Os investimentos em resiliência também podem se tornar motores de criação de empregos. A iniciativa Corredores Verdes de Medellín, na Colômbia, demonstra como os projetos de resfriamento podem vincular ação climática e emprego. Ao capacitar e empregar moradores vulneráveis em jardinagem e manutenção de ecossistemas, a cidade reduziu o calor enquanto gerava novos meios de vida formais. Incluir capacitação, certificação e exigências de contratação no desenho dos projetos garante que essas oportunidades se traduzam em empregos sustentáveis, e não apenas em atividades temporárias.

Construir cidades resilientes, equitativas e inclusivas

Sistemas de alerta precoce, políticas de proteção trabalhista e redes de proteção social podem salvar vidas durante episódios de calor extremo. Mas, para serem eficazes, as soluções devem ser integradas às estratégias e orçamentos urbanos, considerando o emprego e os meios de subsistência junto com as medidas de resfriamento.

Ao integrar a adaptação climática com a geração de empregos, a segurança ocupacional e a proteção social, as cidades podem multiplicar os benefícios de cada dólar investido. O calor urbano extremo não é uma ameaça futura, já está aqui. Agir agora pode salvar vidas, proteger trabalhadores, ampliar oportunidades e construir um futuro mais resiliente e inclusivo.


Marcela Silva

Directora de Infraestructura para la región de América Latina y el Caribe

Carina Lakovits

Especialista en desarrollo urbano

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