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Há cerca de três anos e meio, estamos trabalhando em um projeto com o setor de transportes no estado de São Paulo. O projeto demanda muitas viagens, incluindo deslocamentos frequentes entre o escritório do Banco Mundial em Brasília e a Secretaria Estadual de Transportes de São Paulo (DER-SP), uma viagem que é estimada em duas horas e 40 minutos. Isso inclui o tempo para dirigir do escritório do Banco Mundial para o aeroporto de Brasília, o tempo de voo e o deslocamento do aeroporto de Congonhas em São Paulo para o Departamento Estadual de Transportes.
Digamos que em uma quarta-feira qualquer, a equipe do Banco Mundial deva participar de uma reunião em São Paulo. Para garantir que chegaremos a tempo, planejamos nosso dia com cuidado, reservamos nossos voos e definimos o momento certo para deixar o escritório em Brasília. Conforme planejado, saímos do escritório às 10h e seguimos para o Aeroporto de Brasília. A primeira etapa da viagem leva 35 minutos e nós conseguimos chegar cedo para o nosso voo às 11h, que, infelizmente, se atrasa por 20 minutos.
Aterrissamos em São Paulo, rapidamente saímos do terminal, e conseguimos pegar um táxi às 13h20. Nada mau! Estamos agora na última etapa da nossa viagem, a apenas 14km de distância entre o Aeroporto de Congonhas e o local de encontro, que supostamente levaria apenas 20 minutos. No entanto, uma chuva de verão inunda a cidade e fecha as ruas principais. Isso transforma o tráfego ao longo de nossa jornada em um completo caos, e nosso percurso previsto em 20 minutos se transforma em uma longa viagem de uma hora e 15 minutos. Esses eventos têm sério impacto em nossa reunião, uma vez que alguns funcionários do Departamento de Transportes não conseguem chegar e alguns itens da agenda deixam de ser discutidos.
O incidente pode parecer esporádico, mas ilustra bem a nossa extrema dependência dos sistemas de transportes e as fragilidades associadas a eles. Como são tão críticos para nossas vidas social e econômica, é extremamente importante entender, antecipar e minimizar os diferentes tipos de riscos que podem afetá-los.
Por isso, o Banco Mundial está trabalhando para ajudar os governos a enfrentar melhor os desafios trazidos pelas mudanças climáticas no setor de transportes em todo o mundo. Eventos extremos (como inundações) podem aumentar o fardo para as autoridades de transporte, pois muitas delas gerenciam redes já congestionadas e não conseguem lidar com fatores críticos como vias principais ou túneis interrompidos por condições climáticas desfavoráveis.
No caso específico de São Paulo, o Banco Mundial vem desempenhando um papel fundamental para tornar a resiliência climática parte integral do Projeto de Transporte Sustentável de São Paulo. Está sendo dada especial atenção às rodovias do complexo Anchieta-Imigrantes (parte estratégica da rede rodoviária local que liga São Paulo à cidade costeira de Santos) com vistas a proteger a infraestrutura de transportes do Estado, evitando, tanto quanto possível, as interrupções do sistema devido a eventos climáticos extremos e buscando a assegurar um desenvolvimento sustentável.
Com base nessa experiência, o Banco Mundial, em conjunto com o Instituto Geológico e com o apoio da Plataforma Global para a Redução de Desastres e Recuperação (GFDRR), preparou uma breve publicação para explorar opções de modo a tornar as infraestruturas de transporte mais resilientes a eventos climáticos.
Entre as possíveis soluções, o projeto está financiando atividades de mapeamento de riscos, melhoria do monitoramento climático, estudos sobre impactos econômicos de eventos extremos, entre outros. Combinados, eles ajudariam as autoridades estatais (em particular, a Secretaria Estadual de Transportes, com o apoio do Instituto Geológico e da Defesa Civil) a criar planos de contingência. Os mesmos devem contribuir para reduzir os impactos de curto e longo prazos nos setores de transporte de passageiros e de carga e, portanto, melhorar a resiliência do sistema e das economias dependentes deles.
Assim, à luz da crescente frequência de eventos extremos e dos seus impactos humanos e perdas econômicas, é fundamental incorporar as práticas de resiliência ao setor dos transportes por meio de melhores processos de gestão e manutenção de ativos.
Sempre nos lembramos de uma história marcante: em fevereiro de 2013, o Estado de São Paulo sofreu com intensas chuvas, o que resultou em deslizamentos ao longo das rodovias Anchieta-Imigrantes. Uma pessoa morreu e a Rodovia Imigrantes permaneceu fechada por várias horas. Considerando que cerca de 25% da produção econômica brasileira depende do complexo Anchieta-Imigrantes e que a economia nacional é altamente dependente de conexões rodoviárias eficientes entre São Paulo e Santos, o fechamento da estrada também causou prejuízos econômicos consideráveis para o país.
Esse e outros acontecimentos demonstram, mais uma vez, a importância primordial de incorporar variáveis pertinentes às mudanças climáticas e ao risco de desastres em projetos de transporte. Visto ao exposto, nos perguntamos: seria o complexo Anchieta-Imigrantes o calcanhar de Aquiles do nosso gigante Brasil?
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