Apesar de contribuir menos para a crise climática, a África Subsaariana, onde vivem mais de 1 bilhão de pessoas, continua a sofrer algumas das piores consequências das alterações climáticas. Em 2019, vimos os impactos catastróficos do Ciclone Idai em milhões de pessoas em Moçambique, Zimbábue e Maláui e, em 2020, uma praga de gafanhoto causou uma insegurança alimentar generalizada no meio de uma pandemia global.
Em toda a África, o Banco Mundial apela aos países que aproveitem uma oportunidade única na vida para intensificarem os esforços para aumentar a resiliência climática, fazer crescer as suas economias e reduzir a pobreza , aumentar o acesso à energia em toda a região e aproveitar as vantagens de abordagens sustentáveis e inovadoras para darem um salto em frente para caminhos de desenvolvimento mais verdes.
O Business Plan da Próxima Geração para o Clima de África, lançado em setembro de 2020, estabelece um plano para ajudar a África Subsaariana a fazer exatamente isso. Durante os próximos seis anos (2021-26), o Banco Mundial concentrar-se-á em cinco áreas-chave em África — segurança alimentar, energia limpa, cidades verdes e resilientes, estabilidade ambiental e a gestão dos choques climáticos — que realçam o inter-relacionamento dos riscos climáticos e oportunidades.
O Plano estabelece objetivos ambiciosos que empurram as fronteiras do desenvolvimento sustentável em África, incluindo a formação de 10 milhões de agricultores em abordagens agrícolas inteligentes do ponto de vista climático, a expansão da gestão integrada da paisagem a mais de 60 milhões de hectares em 20 países, o aumento da capacidade de produção de energia renovável de 28GW para 38GW para aumentar o acesso à eletricidade limpa, e o equipamento de pelo menos 100 cidades com abordagens de planeamento urbano compactas e com baixas emissões de carbono.
Uma ação climática ambiciosa pode gerar US$26 triliões para a economia global entre agora e 2030, assim como 65 milhões de novos empregos de baixo carbono em todo o mundo, proporcionando oportunidades para a África à medida que novos mercados se vão desenvolvendo. Por exemplo, o Programa Iluminar África do Banco Mundial ajudou a expandir o acesso à eletricidade a mais 32 milhões de africanos em 27 países da África Subsaariana, fornecendo sistemas solares modernos fora-da-rede, e continua a aproveitar as oportunidades que vão surgindo à medida que o sector da energia fora-da-rede vai evoluindo, tais como sistemas de irrigação e moagem alimentados por energia solar e modelos de negócios inovadores "pay-as-you-go" que permitem que as populações rurais e com baixos rendimentos tenham acesso a soluções de energia limpa.
Para além do sector energético, a melhoria da paisagem terrestre e marítima e das abordagens de gestão das bacias hidrográficas pode proporcionar diversos benefícios, desde a redução da pobreza rural e o aumento da segurança alimentar, até à proteção e regeneração dos ecossistemas e da biodiversidade. Na Etiópia, por exemplo, o Banco Mundial está a fornecer ao governo US$500 milhões de financiamento baseado em resultados para a Ação Climática através do Programa de Gestão da Paisagem para aumentar a adoção de práticas de gestão sustentáveis da terra e para expandir o acesso à posse segura da terra nas áreas rurais.
A África Subsaariana também está a passar por uma transformação urbana. Se for bem gerida, esta transformação pode fazer com que as cidades venham a ser motores de crescimento e reduzir a pobreza na região. A mobilidade será a chave para que isso aconteça — os países africanos precisam de expandir os seus portos, estradas, caminhos-de-ferro, aeroportos, sistemas de transporte público e vias navegáveis para criar e sustentar cadeias de abastecimento modernas e permitir que os seus povos se possam deslocar livremente. Em Dar es Salaam, na Tanzânia, o desenvolvimento de um sistema de transporte com autocarros rápidos já oferece uma opção de transporte acessível e eficiente para os residentes da cidade, e uma sofisticada tecnologia de drones está a criar modelos mais precisos dos caudais de água para ajudar os planificadores a avaliar as operações da cidade e as inundações.
Vimos também que as infraestruturas servem como sólidas linhas de defesa contra os impactos físicos das alterações climáticas, como inundações, tempestades, erosão costeira, ventos de tempestades tropicais e outros desastres. Por exemplo, o Projeto de Desenvolvimento do Sector dos Transportes e Proteção Costeira de São Tomé e Príncipe está a ajudar a construir resiliência entre as comunidades costeiras através da reabilitação de troços de estradas costeiras críticos, enquanto o Projeto de Melhoramento do Transporte do Nordeste (Northeastern Transport Improvement Project - NETIP) está a ligar a Etiópia, o Quénia e a Somália através de um corredor de estradas e pontes capazes de resistirem a condições climáticas extremas e à erosão.
As alterações climáticas são claramente transversais a todas as prioridades do Banco – redução da pobreza, criação de emprego, desenvolvimento de infraestruturas, e muito mais. Os países têm, portanto, de as enfrentar de múltiplas formas, incluindo ajudando as cidades a desenvolverem-se de forma limpa, fazendo com que as práticas agrícolas inteligentes em relação ao clima sejam a norma, expandindo as energias verdes e acessíveis, e colocando as pessoas e as comunidades na vanguarda, para melhorar a qualidade das suas vidas e proteger o futuro.
A pandemia da COVID-19, um dos momentos mais cataclísmicos da história recente, está a condicionar as escolhas financeiras e as políticas sociais de todos os países africanos. Estas mudanças irão condicionar a economia global durante a próxima década, coincidindo com uma altura em que o mundo será forçado a reduzir as suas emissões e a adaptar-se às alterações climáticas. À medida que os países se vão reconstruindo, devemos trabalhar juntos - sector privado, sociedade civil, governos, comunidades e instituições como a nossa - para apoiar uma recuperação verde, inclusiva e resiliente.
Como o maior financiador multilateral de investimentos para o clima nos países em desenvolvimento, o Grupo Banco Mundial tem grandes ambições em relação ao que podemos alcançar para enfrentar a crise climática. Na Cimeira Um Planeta que teve lugar do início deste mês, anunciámos planos para investir mais de US$5 mil milhões nos próximos cinco anos para ajudar a restaurar paisagens degradadas, melhorar a produtividade agrícola e promover meios de subsistência em 11 países africanos do Sahel, do Lago Chade e do Corno de África.
Se combinarmos a nossa ambição com uma ação integrada à escala adequada, podemos proteger os ecossistemas naturais e adaptar-nos a um clima em alteração, em benefício tanto das pessoas como do planeta.
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