Nas ruas vibrantes de Cabo Verde, uma jovem mãe solteira, Kátia Tavares, viu-se a braços com uma realidade partilhada por muitas mulheres no país. Horas de trabalho limitadas, um rendimento abaixo do limiar da pobreza, trabalho não remunerado em casa e uma diferença de rendimentos entre homens e mulheres que se sobrepunha às suas aspirações. A jornada de Kátia, no entanto, deu uma guinada transformadora quando passou a fazer parte do programa de inclusão produtiva do Governo, uma iniciativa financiada pelo Banco Mundial que preparou o terreno para o seu salto inspirador numa área tradicionalmente dominada pelos homens - a canalização.
O exemplo de Kátia encapsula as intrincadas camadas da diferença de rendimentos entre homens e mulheres em Cabo Verde, onde a participação económica e os rendimentos subsequentes ainda trazem as marcas das disparidades de género. Num país onde quase metade dos agregados familiares são chefiados por mulheres, o progresso na educação, saúde e representação política é louvável. No entanto, a arena económica ainda ecoa com desigualdades persistentes, classificando Cabo Verde em 31º lugar em África no Índice de Igualdade de Género.
A paisagem desigual: Um olhar mais atento sobre os dados revela um cenário complexo, com os homens a dominarem a participação económica na maioria dos setores. No entanto, há exceções - o comércio a retalho, a indústria hoteleira e o trabalho doméstico remunerado, onde as mulheres conquistam espaço apesar dos elevados níveis de informalidade. A pandemia da COVID-19 revelou a vulnerabilidade destes setores, sublinhando a necessidade urgente de abordar as disparidades de género na participação económica.
Suportar o fardo: Os cuidados não remunerados e o trabalho doméstico surgem como obstáculos significativos, com as mulheres a assumirem a maioria das atividades de cuidados e das responsabilidades domésticas. Um número impressionante de 93% de mulheres não empregadas refere os deveres familiares como a principal razão para se manter fora do mercado de trabalho, o que representa um custo de oportunidade considerável, especialmente nas zonas rurais.
Caminhos para o progresso: O relatório de Cabo Verde sobre as disparidades salariais entre homens e mulheres revela um roteiro para enfrentar estes desafios, defendendo uma abordagem multisectorial. Eis cinco estratégias fundamentais:
Aliviar o fardo dos cuidados não remunerados: Ao reduzir o fardo dos cuidados não remunerados e do trabalho doméstico através de iniciativas como creches e créditos para cuidados infantis, Cabo Verde pretende alargar o espaço ocupado pelas mulheres no mercado de trabalho.
Capacitação através da formação profissional: A diversificação das opções de formação profissional e o reforço das competências para a vida podem abrir portas a empregos mais bem remunerados para as mulheres. Incentivar as mulheres a aventurarem-se em áreas tradicionalmente dominadas pelos homens surge como um fator-chave para aumentar os seus rendimentos.
Adotar a tecnologia para o empoderamento económico: A adoção generalizada de novas tecnologias, incluindo a banca móvel e outras aplicações, tem o potencial de normalizar os rendimentos e reduzir as disparidades salariais nos setores relacionados com os serviços, onde as mulheres são proeminentes.
Reforço do quadro jurídico: Cabo Verde deu passos largos nas reformas legais, incluindo a Lei da Paridade (2019), para promover a participação das mulheres e o acesso aos recursos. Garantir que estas disposições se reflitam nas disposições institucionais é crucial para os direitos das mulheres e para a proteção social.
Análise do ciclo de vida: Uma análise do perfil etário, integrando o ciclo de vida, proporciona uma compreensão pormenorizada da situação dos indivíduos. Esta abordagem permite uma análise precisa do género, conduzindo a estratégias mais eficazes para colmatar lacunas nos rendimentos e no emprego.
Enquanto Cabo Verde navega no intrincado terreno da economia de género, as histórias de mulheres resilientes como Kátia Tavares iluminam o caminho para um futuro mais inclusivo e equitativo.
Foram oferecidos a Kátia cursos de qualidade em literacia financeira e competências empresariais, assim como um menu de opções de formação profissional, como culinária, cuidados de beleza e canalização. Kátia escolheu a canalização - uma área tradicionalmente dominada pelos homens. "Com a canalização", observa, "posso cobrar 1.500 escudos por uma instalação sanitária e uma casa de banho completa custa 9 mil escudos". Nas suas anteriores atividades de venda de roupa, Kátia apenas fazia um máximo de 500 escudos por dia, sendo que muitos dias não eram rentáveis.
A jornada envolve a eliminação de barreiras, a capacitação das mulheres através da educação e das competências e a adoção de uma abordagem holística que reconheça a interligação entre trabalho, família e progresso social. No coração da busca de Cabo Verde pela eliminação da diferença de rendimentos entre os sexos, está em curso um esforço coletivo para fomentar a igualdade e preparar o caminho para um amanhã mais brilhante.
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