Caminhando rumo à segurança: uma iniciativa ousada do Rio de Janeiro para proteger crianças em idade escolar

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Caminhando rumo à segurança:    uma iniciativa ousada do Rio de Janeiro para proteger crianças em idade escolar Produção colaborativa de mapas de risco e intervenções propostas pelos alunos como parte do Programa A Caminho da Escola. (Fonte: ITDP e WRI Brasil)

No Rio de Janeiro, a jornada diária para a escola pode ser perigosa para muitas crianças. Como os sinistros de trânsito são a principal causa de morte entre crianças brasileiras de 5 a 14 anos, a cidade tomou uma medida ousada para garantir que seus cidadãos mais jovens possam ir a pé para a escola com segurança. O programa A Caminho da Escola 2.0 é uma iniciativa pioneira que combina educação sobre segurança viária com melhorias na infraestrutura, estabelecendo um novo padrão para a segurança urbana.  

O programa, lançado em 2008 por meio de uma parceria entre a Companhia de Engenharia de Tráfego do Rio de Janeiro (CET-Rio) e a Secretaria Municipal de Educação, destaca-se por sua natureza colaborativa. Os alunos e professores não são apenas beneficiários passivos; eles identificam ativamente os problemas de segurança viária no entorno de suas escolas e propõem soluções. Esse envolvimento popular garante que as medidas tomadas sejam práticas e atendam diretamente às necessidades da comunidade. 

Em 2021, o programa foi revitalizado com o apoio do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP Brasil) e da Fundação FIA. Essa reformulação teve como objetivo dar vida às visões de alunos e professores por meio de melhorias tangíveis. Desde então, foram implementadas medidas de redesenho viário e moderação de tráfego no entorno de cerca de 50 escolas públicas, e mais de 200 escolas receberam ações de conscientização e educação. 

 

Medindo o sucesso

Para entender o impacto do programa e identificar áreas de melhoria, o Banco Mundial, em colaboração com o ITDP Brasil e o World Resources Institute (WRI), realizou extensas auditorias de segurança viária no entorno de cerca de 30 escolas e implementou mais de 2.000 entrevistas com alunos, cuidadores e professores. Essa colaboração ressalta a importância da elaboração de políticas baseadas em evidências para lidar com desafios urbanos complexos.

Com o apoio do fundo fiduciário Human Rights, Inclusion, and Empowerment, o estudo gerou descobertas que foram reveladoras e encorajadoras e ajudarão a refinar e ampliar o programa.

  • Ir a pé para a escola: Quase metade dos alunos (47%) e mais da metade dos cuidadores (54%) vão a pé para a escola. As meninas e as cuidadoras têm maior probabilidade de caminhar do que seus colegas homens.

  • Conhecimento aprimorado sobre segurança no trânsito: O programa melhorou significativamente o conhecimento sobre segurança viária de alunos, professores e cuidadores. Os participantes agora estão mais conscientes das intervenções de projeto viário que promovem a segurança, como a redução da curvatura das esquinas e o estreitamento das faixas de tráfego para reduzir a velocidade.

  • Preferência por modos sustentáveis: Os alunos das escolas que se beneficiaram do programa demonstram uma clara preferência por modos sustentáveis de deslocamento. Em um cenário hipotético de reforma de ruas próximas às suas escolas, 64% desses alunos priorizaram bicicletas e caminhadas, em comparação com 47% dos alunos de escolas que ainda não haviam recebido intervenções físicas de segurança viária

 

 

The World Bank

 

 

As auditorias de segurança viária também levaram à criação de um Guia de Entornos Escolares Seguros, que fornece diretrizes de projeto para áreas escolares seguras e acessíveis. Esse guia não é apenas uma ferramenta para aprimorar o programa, mas também um recurso valioso para outras cidades que buscam aumentar a segurança viária ao redor das escolas.

Recomendações para expansão

O sucesso do programa com intervenções de urbanismo tático - conhecidas por serem rápidas e de baixo custo - destaca a necessidade de acompanhamento com obras físicas mais robustas que exijam menos manutenção. Além disso, a combinação desses esforços com intervenções urbanas de maior escala pode maximizar os benefícios da segurança viária. Para expandir o escopo das intervenções, será necessário o envolvimento de outras instituições municipais, como as secretarias de educação e saúde, e um envolvimento mais amplo da comunidade para adotar velocidades mais seguras ao redor das escolas e priorizar os pedestres e ciclistas no projeto das ruas.

Um modelo para outras cidades

O programa “A Caminho da Escola 2.0” do Rio de Janeiro é uma prova do poder das iniciativas colaborativas e voltadas para a comunidade na criação de ambientes urbanos mais seguros. Ao integrar a educação sobre segurança viária com melhorias na infraestrutura, o programa não apenas protege as crianças, mas também promove uma cultura de mobilidade urbana sustentável.

A jornada para a escola nunca deve ser perigosa. Neste momento em que as cidades do mundo todo enfrentam desafios semelhantes, a abordagem do Rio de Janeiro oferece lições valiosas e um farol de esperança para ruas mais seguras e comunidades mais saudáveis.


Aiga Stokenberga

Senior Transport Economist

Ana Waksberg Guerrini

Senior Urban Transport Specialist, World Bank

Marta Obelheiro

Road Safety Consultant

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