É real a situação caricata que África tem vindo a sofrer a décadas com as elevadas taxas de mortalidade e natalidade, na qual dentre as grandes causas temos o casamento infantil justificado em crenças, tabus, cultura e religião.
As crenças: a importância do ser humano, seja ele homem ou mulher, é de ser fértil e deve dar a prova disso o quanto antes.
Esta urgência em mostrar tal competência deixa primordialmente as mulheres num estado de terror psicológico se não o fizerem.
Os tabus: Questões que não podem ser discutidas e não podem ser alteradas de forma alguma, em muitos casos ligadas à espiritualidade e tradição.
A cultura, de matriz africana que acredita que os filhos são riquezas, que um filho é sinal de mediocridade, onde o aborto não é opção e quando permitido, moralmente e psicologicamente tendem a ter uma destroça experiência para as mulheres que nem se quer podem ter um acompanhamento psicológico, por acharem desnecessário. Também deve ser reconhecido que ter muitos filhos é uma das consequências duradouras da época da escravatura.
A religião: também tem o seu papel no que toca à uniões prematuras, visto que se uma rapariga engravidar a única opção apresentada é o casamento.
Estes casamentos não são necessariamente por falta de conhecimento, mas primordialmente por falta de meios financeiros, pois métodos contraceptivos são caros para a população de classe humilde que são as mais vulneráveis a estas práticas, nos dias de hoje.
Educação sexual é ainda um assunto muito sensível para a comunidade africana que impõe desde tenra idade o casamento como o maior sonho e grande objectivo de vida para as raparigas e demonstração de virilidade no caso dos homens.
Como mudar estes paradigmas se não mudar o ambiente que proporciona tais práticas? Precisamos envolver a comunidade e os seus líderes, pois diversas práticas e rituais de maior idade são realizados em meninas após a primeira menstruação, que é uma violação à lei da maioridade (18 anos). Portanto, propomos abordar a questão subjacente com os líderes comunitários em um processo de negociação para que possam adiar os rituais de maioridade entre essas meninas. De acordo com a cultura, são esses líderes que decidem se as meninas estão ou não prontas para casar e assumir a maternidade.
A ideia é de criarem-se centros comunitários desenhados no modelo cultural africano (local) que possa transmitir conforto e segurança durante as sessões, o que irá resultar na não resistência ao aprendizado. Este processo educacional seria para ambos os sexos (homens e mulheres). O centro iria ter condições para oferecer acompanhamento psicológico a todos envolvidos no processo. Contraceptivos seriam oferecidos aos jovens junto com a orientação de uso, discussão sobre o não uso e até que nível o método escolhido pode proteger quem vai usar.
Esses centros comunitários devem ser dinamizados pelos próprios membros da comunidade junto com pessoas de fora que tenham alguma ligação às questões relacionadas a saúde, tais como médicos ginecologistas, psicólogos, farmacêuticos, pessoas ligadas aos desportos, tradutores de português para língua materna, ou indivíduos com experiência e que podem treinar futuros voluntários. Deve ser
implementado um processo que não canse o pessoal chave, e assegurar que o espírito de querer ajudar permaneça fresco e propício a novas ideias para que se possa melhorar a função principal dos centros. Precisamos de fundir as leis locais com as que regem a sociedade em geral (no caso de leis que queremos introduzir nessas comunidades), para encontrar um meio termo que não crie conflito com nenhum dos lados.
Os centros teriam também um teor académico para pesquisadores e docentes que queiram investigar sobre o casamento infantil, as causas, as condições que favorecem tais práticas nestas localidades. os resultados de tais práticas e comparar a estudos existentes para futuras orientações de desmistificação do processo em África, desta África que não conhece o termo “Pedofilia” e que se difere do Ocidente.
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