Embora muitas mulheres e jovens em Angola não tenham acesso a formação e oportunidades, estão a florescer iniciativas sociais para os ajudar a lutar contra a situação actual e a realizar os seus sonhos. Conversámos com Carmen Mateia, de 25 anos, uma activista social que fez da missão da sua vida capacitar os jovens e promover o desenvolvimento da comunidade em todo o país e não só. Carmen é - de forma muito impressionante - a fundadora de várias iniciativas, aqui estão apenas algumas delas:
Através do “Turista Sem Kumbú - Consultoria Comunitária”, Carmen viaja por todo o país, bem como internacionalmente, para ensinar sobre organização para a acção comunitária, advocacia social juvenil, liderança cívica, angariação de fundos, economia criativa, direitos humanos, direitos das mulheres e gestão de projectos sociais. O seu objectivo é capacitar os líderes locais para enfrentarem os desafios e promoverem o desenvolvimento sustentável nas suas comunidades.
Outro projecto, “NFL - Na Fila Do Pão”, permite-lhe assegurar que os jovens tenham acesso a oportunidades, proporcionando-lhes um espaço de descoberta e crescimento - uma comunidade onde são partilhados links e informações sobre vagas de emprego, formações, bolsas de estudo, parcerias, entre outros.
Por último, a “Associação Agitadores Culturais”, considerado o maior movimento juvenil da província de Benguela, baseia-se no artigo 27º da Declaração Universal dos Direitos Humanos para promover a cultura e os direitos humanos em Angola.
Carmen, como e quando é que uma mulher tão jovem como você tomou consciência das diferenças sociais e começou a preocupar-se em reduzir as desigualdades?
Foi no ambiente dos escuteiros, aos 12 anos, que descobri a minha paixão pelo associativismo e dei os primeiros passos na liderança. Essas primeiras experiências ensinaram-me a importância da comunidade e da colaboração e o impacto positivo que podem ter na vida das pessoas. Mas foi aos 20 anos que o meu percurso tomou um novo rumo, quando participei no YALI - Young African Leaders Initiative (Iniciativa de Jovens Líderes Africanos) e percebi o verdadeiro potencial das minhas acções. De repente, tornou-se claro para mim que podia não só continuar o meu trabalho voluntário, mas também profissionalizá-lo.
Na sua opinião, qual é o papel das comunidades locais na promoção do desenvolvimento sustentável? Como é que os jovens podem liderar estas iniciativas?
As comunidades locais são as guardiãs dos nossos recursos naturais e culturais e têm um conhecimento profundo das necessidades e desafios específicos da sua região. A sua participação activa é, portanto, essencial para garantir que as iniciativas de desenvolvimento sejam relevantes, eficazes e sustentáveis a longo prazo. Os jovens têm um enorme potencial para liderar iniciativas locais, pois trazem energia, criatividade e novas perspectivas que são vitais para enfrentar os desafios actuais.
Como tem abordado as questões da equidade de género e da violência contra as mulheres nos seus projectos?
No âmbito do “Turista Sem Kumbú”, organizo workshops e sessões de formação sobre género e direitos das mulheres e ajudo as mulheres a consolidar a sua própria autonomia, oferecendo programas sobre liderança, gestão de projectos e economia criativa. Também trabalho para influenciar políticas públicas que protejam os direitos das mulheres e fortaleçam a aplicação das leis, principalmente participando de consultas e audiências públicas sobre assuntos relacionados a meninas e mulheres. Estive entre os que testaram o manual da UNICEF sobre saúde sexual e reprodutiva, por exemplo.
Através da “Associação Agitadores Culturais”, fornecemos educação e sensibilizamos para a igualdade de género e para a violência contra as mulheres, oferecendo workshops, talk shows e sessões de filmes que abordam estas questões nas comunidades. Estas iniciativas permitem-me dar apoio directo e prático às mulheres que lidam com a violência de género, que não é apenas física.
Quais são as estratégias que considera mais eficazes para promover a emancipação feminina e a equidade de género em Angola?
O mais importante é adoptar uma abordagem multifacetada e integrada. Acredito firmemente na importância de proporcionar às mulheres e raparigas educação e formação em liderança, gestão de projectos e empreendedorismo. Desta forma, podem desenvolver competências essenciais e alcançar autonomia económica. Os programas educativos devem também incluir debates de sensibilização sobre os direitos e a equidade de género e ajudar a desconstruir estereótipos e normas prejudiciais.
É igualmente crucial capacitar economicamente as mulheres, fornecendo às empresas lideradas por mulheres o apoio financeiro e os recursos de que necessitam para se tornarem independentes e contribuírem activamente para as suas comunidades. Estou igualmente convencida da necessidade de defender a causa para influenciar as políticas públicas e a legislação que promovem a equidade de género e protegem os direitos das mulheres, nomeadamente trabalhando com os governos e as organizações para garantir a aplicação e o reforço das leis que combatem a violência de género e promovem a equidade em todos os sectores da sociedade.
Claro que há outros factores a ter em conta. Os que mais me interessam incluem o desenvolvimento de estratégias de sensibilização, que são fundamentais para mudar atitudes e comportamentos em relação ao género, bem como a promoção de modelos positivos para aumentar a visibilidade das mulheres líderes e destacar os seus êxitos, a fim de inspirar outras pessoas. Por último, acredito muito na criação de redes de apoio e programas de mentoria para mulheres. Através destas estratégias, podemos desafiar as normas culturais e sociais que perpetuam a desigualdade.
O que a motiva a dedicar-se a causas comunitárias e impactar tantas pessoas?
A minha principal motivação é a minha paixão por transformar vidas e criar oportunidades para os jovens. Tenho uma crença profunda, quase religiosa, no seu potencial para liderar a mudança, juntamente com uma forte fé na justiça social. Também quero deixar um legado positivo como alguém que inspirou as actuais e futuras gerações a lutar pela igualdade de direitos, oportunidades e desenvolvimento.
Quais são, na sua opinião, os seus limites e talvez os de mulheres como você?
Como disse Michelle Obama: “Não há limites para o que nós, como mulheres, podemos alcançar”. Estou convencida de que qualquer mulher a quem seja dada a oportunidade de construir a sua própria agenda, ganhar visibilidade e contar com fortes redes de apoio pode ultrapassar qualquer barreira e atingir qualquer objectivo, independentemente dos desafios que encontre.
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