Belo Horizonte está decidida a ser conhecida por seu compromisso com a sustentabilidade. Nos últimos anos, a iluminação pública foi trocada por um sistema mais eficiente, conduziu-se um inventário de emissão de gases causadores de efeito estufa e foram criados programas de compras públicas e construções sustentáveis. A empresa responsável pelo serviço de limpeza pública e tratamento de resíduos gera eletricidade a partir do biogás gerado no aterro sanitário. A cidade se orgulha de seus parques públicos e de sua área verde – com tamanho duas vezes maior que o recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
À medida que essas iniciativas evoluíam, as autoridades reconheceram que poderia ser feito mais para aumentar a eficiência energética da cidade. Para ajudar a decidir a melhor forma de destinar recursos, Belo Horizonte fez uma parceria com o Banco Mundial para tornar-se a primeira cidade da América Latina a implementar o Instrumento para Avaliação Rápida da Energia da Cidade (TRACE, na sigla em inglês).
O TRACE é um instrumento de apoio a decisões, desenhado para ajudar as cidades a identificar rapidamente as oportunidades de obtenção de eficiência energética. Ele analisa seis setores: transporte, iluminação pública, edificações, energia e calor, lixo, água e esgotos. A ferramenta inclui um módulo de energia que compara os indicadores da cidade com os números disponíveis para zonas urbanas parecidas. Outro módulo fica responsável por organizar um ranking de potencial para economia de energia nos vários setores de determinada cidade. A partir desses dados são geradas recomendações para intervenções específicas em energia.
A ferramenta foi desenvolvida pelo Programa de Assistência em Gerenciamento do Setor Energético (ESMAP, na sigla em inglês), um programa de assistência técnica e conhecimento sobre energia global administrado pelo Banco Mundial.
Trabalhando diretamente com o setor público de Belo Horizonte ao longo de três meses no começo de 2012, a equipe da ESMAP fez uma pesquisa a respeito da energia usada pela cidade e propôs recomendações em setores-chave. Alguns resultados surpreenderam.
Na comparação com outras cidades, não havia muito mais o que economizar em termos de energia. Isso porque as perdas técnicas e comerciais já estão entre as mais baixas do mundo e porque a empresa local de eletricidade investe o equivalente a US$ 28 milhões ao ano em eficiência energética. Embora a cidade tenha um programa de eficiência energética voltada para os edifícios, a análise do TRACE concluiu que uma unidade central com poder para implementar medidas específicas poderia contribuir para uma maior economia.
Alguns dos maiores potenciais de ganho foram encontrados no setor de transporte, por meio da integração de vários planos e projetos e por meio da otimização do tráfego. Outro setor alvo foi a empresa local de água, onde um sistema ativo de detecção de perdas poderia minimizar as perdas causadas por vazamentos. A análise também recomendou maior eficiência nas rotas feitas pelos caminhões de lixo, de modo a diminuir os recursos gastos no transporte de lixo para os aterros sanitários.
As recomendações do TRACE foram apresentadas no Congresso Mundial da ICLEI – um grande encontro de governantes locais de todo o mundo – em Belo Horizonte, entre 14 e 17 de junho deste ano. ICLEI – sigla em inglês para Governos Locais pela Sustentabilidade – é uma associação global de administrações nacionais, regionais e municipais comprometidas com essa causa. O congresso em BH reuniu 1.600 participantes e focou na criação de cidades construídas em função das pessoas, com biodiversidade e baixa emissão de carbono.
"As cidades são os principais motores da eficiência energética para os países, em especial naqueles em desenvolvimento. É muito mais eficaz incluir a eficiência energética no planejamento desse crescimento do que tentar corrigir tudo mais tarde." | Ivan Jaques, diretor da Iniciativa por Cidades Energeticamente Eficientes, ESMAP
“As cidades são os principais motores da eficiência energética para os países, em especial naqueles em desenvolvimento”, disse Ivan Jaques, que está à frente da Iniciativa por Cidades Energeticamente Eficientes no ESMAP. “As cidades de alguns países estão crescendo num ritmo tal que, na verdade, há novas cidades sendo criadas o tempo todo. É muito mais eficaz incluir a eficiência energética no planejamento desse crescimento do que tentar corrigir tudo mais tarde. Uma ferramenta como o TRACE pode ajudar as cidades a otimizar os recursos e colocá-los onde eles possam fazer a maior diferença possível, permitindo melhorias na qualidade de vida dos habitantes e economia de recursos para os governos locais.”
O TRACE foi inicialmente testado – com resultados positivos – em Cidade Quezon, Filipinas, em 2010. A ferramenta foi, desde então, usada em mais 14 cidades pelo mundo. Na Turquia, ela ajudou a definir os pilares das cidades sustentáveis na Estratégia de Parceria (orçada em US$ 4,5 bilhões) definida com o Banco Mundial no período de 2012 a 2015. Na Indonésia, o Banco Mundial usou esse instrumento para criar casos de estudo municipais, cujos resultados estão sendo usados para criar orientações para programas de Energia Urbana Sustentável nas cidades da região.
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