Read this post in English
Quem tem mais de um filho sabe que nunca deve responder à questão “Quem é seu preferido?”. Os profissionais que trabalham com cidades deveriam também levar esse conselho em conta. Acontece que eu estava em um jantar na semana passada e nossa anfitriã pediu que escolhêssemos nossa cidade predileta. “Ninguém ganha sobremesa nem sai da mesa se não disser quem é a favorita”, ela insistiu.
Toronto, minha cidade natal, certamente tem todos os ingredientes necessários para ser a melhor do mundo, mas ainda não está expressando todo o seu potencial. Montreal e Vancouver são cidades canadenses ótimas, e Calgary e Edmonton (também no Canadá) são grandes inovadoras. Winnipeg conta com o Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (IISD) – uma instituição respeitada mundialmente – e arredores bons para a canoagem, mas há invernos longos e mosquitos demais.
Nos Estados Unidos, Nova York é incrível. Minha mulher e eu a visitamos pelo menos uma vez por ano para garantir que “continuamos vivos”. Houston e Chicago são fortes concorrentes, porque lutam para integrar crescimento, meio ambiente e preocupações sociais. San Francisco e Portland, por sua vez, mobilizaram esforços ambientais por décadas.
Viver em Washington é maravilhoso: a enorme gama de profissionais, as ótimas ciclovias, as cerejeiras em flor e todos os museus e galerias de arte com entrada franca são um grande bônus. Mas, com os fechamentos do tráfego, as milhares de catracas de segurança em torno dos prédios e mesmo os inconvenientes para o tráfego de pedestres, a cidade está perdendo um pouco do charme.
Na Europa, Paris é de longe a melhor cidade para caminhar. Milão traz a mistura perfeita de trabalho e lazer. Em Londres, o mix cultural e a vontade de encarar o futuro sem ignorar valores históricos fazem da cidade uma concorrente fortíssima. Copenhague e Estocolmo são frescas, limpas e confortáveis. Amsterdã e Barcelona estão entre as mais descoladas do conjunto.
E, claro os prédios de Hamilton, em Bermuda, estão entre os mais coloridos – e há muito a ser dito sobre a possibilidade de usar shorts no trabalho durante o verão.
“Escolha só uma, pelo amor de Deus!”, implorou a anfitriã.
Tóquio é provavelmente a cidade grande mais bem administrada do mundo. Gosto de cidades grandes porque elas oferecem de tudo, e se você mora no lugar certo, pode caminhar para ter acesso à maior parte disso. Boas cidades grandes são o principal ingrediente para nos levar ao desenvolvimento sustentável.
Singapura não conta, porque é muito mais um país do que simplesmente uma cidade. Sidney, Melbourne e Brisbane são grandes candidatas. Auckland também, embora as praias não sejam tão convidativas.
Quando trabalhamos com desenvolvimento e precisamos escolher um campeão, é justo escolher cidades que estejam fazendo o melhor possível com o que têm – e não só as mais ricas. Nesse grupo, estão cidades como Surabaya, na Indonésia; Hanói, no Vietnã; Kunming, na China; e La Paz, na Bolívia. As da África do Sul também são ótimas. A Cidade do Cabo é limpa e aparentemente bem administrada, bem como Durban. E quase dá para sentir Joanesburgo acordando de manhã e se perguntando como é possível agregar a maior parte da economia e da cultura da África.
“O café está esfriando! Escolha essa cidade logo!”.
Buenos Aires é bonita e mergulhada em histórias e intrigas; a favorita dos carnívoros que gostam de vinho tinto e sabem dançar tango. Santiago tem a melhor combinação de comida, vinho e vistas maravilhosas da janela do hotel. E Lima traz uma boa fusão entre o potencial de amanhã e os simples prazeres de hoje.
De fato, grandes cidades, mas tenho de ficar com uma cidade no Brasil. O país, com uma mulher na presidência, com recursos e oportunidades, está bem posicionado para o futuro. Na verdade, os índices de violência com armas de fogo são maiores do que nos Estados Unidos, mas pelo menos estão diminuindo rapidamente. Os brasileiros, especialmente nas cidades, parecem querer oferecer um futuro melhor ao máximo possível de pessoas.
O Rio de Janeiro é uma escolha óbvia. Suas paisagens são estonteantes, e uma cidade com praias tão lindas tem de estar numa boa posição em qualquer lista. Além disso, os esforços para torná-la a cidade mais verde da Terra merecem crédito.
Mas, na escola, eu nunca pedi para dançar com a menina mais bonita. A segunda mais bonita sempre me pareceu uma escolha melhor em longo prazo. Além disso, para aproveitar ao máximo as praias do Rio, teria de perder 4,5kg e ter um abdômen de tanquinho.
Então, seguindo essa lógica, fico em dúvida entre São Paulo e Belo Horizonte.
“Chega de dúvidas, escolha uma só. Agora. Por favor.”
BH teve alguns bons prefeitos e provavelmente conta com o melhor sistema de gerenciamento de dados sobre os bairros. Além disso, as cidades nos arredores apresentam rochas e minerais incríveis – há até um museu de geologia (veja só como os atributos das cidades podem ser variáveis).
São Paulo é grande, robusta e muito mais apressada – e, agora, o mundo precisa mesmo de pressa, desde que seja no sentido certo. A cidade representa muito para a economia do Brasil. O trânsito é terrível e há muita gente ainda vivendo em favelas. Ainda assim, a cidade floresce como um centro global importante.
São Paulo é um enorme e espetacular trabalho em progresso – tentando encontrar aquele equilíbrio entre crescimento e sustentabilidade. Seus líderes tentam desenvolvê-la de uma forma racional, viável e, se possível, inclusiva.
Por ora, fico com São Paulo.
E saiba desde já que, se for convidado a jantar na nossa casa, terá de escolher uma cidade preferida. A sobremesa só vai ser servida depois de discutirmos como fazermos dessa cidade – ou de qualquer outra – uma favorita ainda maior. Agora, hora do café.
Join the Conversation