Publicado em Africa Can End Poverty

África ainda pode: Um apelo à criação de mais e melhores empregos para acabar com a pobreza

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Carpenter building furniture in the Democratic Republic of Congo. Photo: Vincent Tremeau/ World Bank Carpenter building furniture in the Democratic Republic of Congo. Photo: Vincent Tremeau/ World Bank

Neste Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, ou #EndPoverty Day, quero chamar a atenção para a urgência de melhorar o nível de vida em África. 

Deixem-me começar com um número que é uma boa medida do progresso de um povo: o rendimento per capita.  Prevê-se que o crescimento económico na África Subsaariana abrande este ano para 2,5%, em comparação com 3,6% em 2022. Ao mesmo tempo, a nossa população aumentou cerca de 2,5%, o que significa que, em termos per capita, o progresso estagnou.

De facto, o crescimento per capita na África Subsaariana não aumentou desde 2015, o que nos coloca à beira de uma década perdida devido a choques, inflação, elevado endividamento e uma fraca economia global. Apresentamos tudo isto na nossa atual Africa’s Pulse: Proporcionar crescimento às pessoas através de melhores empregos, a nossa publicação semestral que analisa as perspetivas económicas a curto prazo para o continente.

A redução da pobreza não está no caminho certo

Com o abrandamento do crescimento, a criação de emprego também foi reduzida, limitando assim um dos principais canais para sair da pobreza. No nosso próximo Relatório sobre a Pobreza e a Desigualdade em África, produzido em colaboração com a Prática Global sobre a Pobreza do Banco Mundial, apresentaremos uma imagem atualizada da pobreza e das desigualdades na região, que é muito necessária, e aprofundaremos a realidade que o continente enfrenta:

  • O número de pessoas em situação de pobreza extrema aumentou em África, passando de 370 milhões em 2014 para 391 milhões em 2019. Desde então, estima-se que tenha aumentado ainda mais devido aos impactos económicos da COVID-19.
  • Os pobres de África representam quase 60% dos extremamente pobres de todo o mundo, e 40% dos pobres de África vivem em apenas quatro países – República Democrática do Congo, Madagáscar, Nigéria e Tanzânia.
  • A desigualdade dentro dos países de África está entre as mais elevadas de todas as regiões em desenvolvimento. O índice Gini, uma medida de desigualdade, é de 41 na África Subsaariana, um nível só ultrapassado pela América Latina e as Caraíbas. A elevada desigualdade limita a redução da pobreza em países de baixos-médios rendimentos.
  • Os rendimentos em África teriam de ser multiplicados por 11, em média, para atingir o padrão de prosperidade global de 25 dólares por pessoa por dia (2017 Paridade do Poder de Compra, PPC, em 2017), em comparação com um fator de 5 para o mundo como um todo, realçando assim o desafio particularmente acentuado enfrentado pela região.

Taxas de pobreza extrema

Chart showing extreme poverty rates in Africa

 

Chart showing number of poor people in millions, in Africa and the world.

Gráficos do Relatório sobre a Pobreza e Desigualdade em África (em breve)

Porque é que o crescimento em África se traduz numa redução da pobreza inferior à de outras regiões?

Tanto o mais recente “Africa’s Pulse Report” como o próximo relatório sobre a pobreza tornam claro que a falta de crescimento inclusivo e as elevadas desigualdades dificultam a redução da pobreza na região. A taxa a que o crescimento do PIB se traduz na redução da pobreza em África é a mais baixa de todas as regiões. 

Muito dessa ineficiência em traduzir o crescimento numa redução da pobreza está relacionado com o tipo de economia mais prevalente na região: dependência excessiva de poucas matérias-primas para o comércio internacional, muitas microempresas e práticas comerciais desfavoráveis em concorrência, finanças e infraestrutura.

Tendo em conta estes constrangimentos, não é surpreendente que 96% dos empregadores sejam microempresas com menos de 5 trabalhadores. O reduzido tamanho das empresas reflete os desafios que os empreendedores enfrentam para aumentar a produtividade, adotando novas tecnologias, para aceder a mercados maiores e, finalmente, contratar mais trabalhadores. Como resultado, apenas um em cada seis trabalhadores tem um emprego assalariado na África Subsaariana, em comparação com um em cada dois trabalhadores em países com altos rendimentos. Em contraste, 80% das mulheres e 67% dos homens da região trabalham por conta própria ou para as respetivas famílias.

Para sair da pobreza, são necessários bons empregos no continente —empregos com um salário estável, oportunidades de desenvolvimento de competências e de especializações, e acesso a ferramentas e equipamentos adequados—o que apenas é possível tendo pessoas que trabalham em conjunto em organizações que crescem e prosperam.

É por isso que, neste #EndPoverty Day, gostaria de apelar a uma maior atenção para a Agenda do Emprego como um caminho para a esperança e a prosperidade no continente. O nosso mas recente “Pulse Report” estabelece elementos desse caminho para que os governos criem uma economia mais propícia ao emprego, concentrando-se na estabilidade fiscal, em instituições mais fortes, em investimentos em capital humano e na criação de condições mais equitativas para as empresas.


Autores

Andrew Dabalen

Chief Economist, Africa, World Bank

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