A parte realmente interessante de trabalhar em infraestrutura é todos conhecerem a própria tarefa.
Nós todos pagamos contas, ficamos sem energia durante tempestades e nos preocupamos com a qualidade da água que vamos beber. Nós todos já ficamos repetindo “Alô? Alô” até percebermos que a ligação telefônica caiu depois de termos confessado “eu te amo” a um pedaço de plástico desconectado.
Todos sabem quando os serviços funcionam e quando não funcionam. No entanto, os economistas da infraestrutura lutam para compreender por que certas utilidades públicas funcionam e outras não. Há um pacote de reformas que nos consiga mais conexões, níveis mais altos de eficiência, serviço de melhor qualidade e tarifas mais baratas?
Acontece que, mesmo não havendo um elixir mágico, há algumas respostas a estas perguntas. Com base nos dados de centenas de serviços de utilidade pública de energia, abastecimento de água e telecomunicações em toda a América Latina e Caribe, uma análise desta rica fonte de informação [ver Uncovering the Drivers of Utility Performance ( Descobrindo os Impulsores do Desempenho dos Serviços de Utilidade Pública)] oferece algumas perspectivas.
Privado versus público
Este debate pode ser tão antigo quanto as montanhas, mas ainda pode dividir famílias – ou, no mínimo, arruinar um jantar. Vamos falar de cabeça fria e deixar que os dados falem por si só. Em média, as utilidades públicas privadas oferecem serviços mais eficientes e de melhor qualidade do que as contrapartes públicas. As perdas e interrupções de serviço são menores, a eficiência da mão de obra é mais eficiente e reduz-se a duração dos apagões. (Há certas exceções a esta regra: cerca de 1 entre 10 utilidades públicas têm, em média, melhor desempenho do que a contraparte privada.) Os serviços de utilidade pública também expandiram o acesso, mas, em média, esse acesso não tem crescido de maneira mais rápida do que os serviços públicos e as tarifas não caem abaixo das taxas do serviços públicos, especialmente no caso do abastecimento de água e energia elétrica.
Assuntos normativos
Se a eficiência melhora e os preços ao consumidor permanecem os mesmos na prestação de serviços privados, então pelo menos uma de duas coisas está acontecendo: menor volume de subsídios são destinados ao setor para cobrir a despesa do hiato de recuperação do custos; e/ou os provedores de serviços estão captando a maior parte dos benefícios da eficiência. Isso pode ser justo, dada a necessidade de pagar impostos, ter lucro e custear as despesas de investimento, mas também significa que alguém precisa vigiar o galinheiro. Na maioria dos serviços de infraestrutura, os consumidores não podem depender da concorrência para regular os preços e a qualidade do serviço. No caso dos serviços de energia, abastecimento de água e saneamento, tal como no caso da telefonia de linha fixa, os vestígios do monopólio natural ainda dominam. Em alguns mercados de energia, os geradores concorrem em matéria de despacho e os fornecedores às vez competem entre si para vender energia ouágua através de fiação e tubulações existentes. As linhas fixas são mais eficientes quando os serviços móveis competem entre si, mas, na maior parte, os investimentos volumosos em ativos que definem a infraestrutura não são redundantes. Com outras palavras, a forma mais eficiente de construir a infraestrutura continua a ser uma única rede que atende a domicílios e empresas individuais.
Uma vez estabelecida a rede, a regulamentação protege a relação entre o consumidor e o serviço de utilidade pública. Os dados revelam que predomina a lei da separação entre o princípio e o agente – entre provedor de serviços e regulador, como protetor do interesse público. A regulamentação produz melhores resultados para o consumidor – menos perdas, menos apagões, mais ganhos de eficiência e correções mais rápidas de problemas – e quanto maior a capacidade do regulador, melhores os resultados. Isso é verdadeiro para os serviços de utilidade pública tanto privados como para as empresas estatais. A existência de reguladores mais fortes também se correlaciona com uma maior recuperação de custos. Portanto, mesmo se, em média, as tarifas forem mais altas, todos saem ganhando, inclusive o consumidor.
O mistério das empresas estatais
Entretanto, oculta entre a verdades das médias há uma ampla série de resultados do desempenho. O que impulsiona essas empresas estatais que funcionam tão bem ou melhor do que os serviços privados? O desempenho gira em torno da governança corporativa e de sistemas de incentivos. O desempenho é melhor nos provedores de serviços públicos que contam com estruturas legais sólidas, diretorias independentes, incentivos para o desempenho e finanças transparentes.
A ciência do nosso ponto de vista
Para aqueles entre nós que passaram a vida adulta tentando construir uma narrativa sobre como reformar os provedores de serviços de infraestrutura, este trabalho nos proporciona uma ponto de vista baseado em evidências. É algo mais ou menos assim...
- Em média, os serviços privados de utilidade pública superam os serviços públicos, mas não espere que isso resolva todas as questões relacionadas com acesso e preço.
- A supervisão e a regulamentação exercem impacto sobre o desempenho e retornam rentabilidade aos consumidores em todos os países com tradições jurídicas diferentes e serviços tanto privados como públicos. O regulador precisa ter uma certa coragem para agir com firmeza.
- Finalmente, talvez não seja preciso arriscar o aparecimento de manifestações de rua ao ressaltar um serviço público de utilidades – algumas empresas estatais têm um bom desempenho. No entanto, para conseguir eficiência e padrões de qualidade de serviço mais típicos do setor privado, talvez seja necessário implementar reformas estruturais sob os princípios de comercialização, transparência e independência.
Agora realmente todos conhecem o nosso negócio.
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