As cicatrizes permanentes das perdas na educação na América Latina e no Caribe

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Niña escribiendo en una sala de clases con sus compañeros en la Comunidad Floripón, Siuna, Nicaragua. Niña escribiendo en una sala de clases con sus compañeros en la Comunidad Floripón, Siuna, Nicaragua.

 

A Covid-19 deixará consequências permanentes inegáveis para as próximas gerações, uma vez que um dos principais componentes das estratégias de contenção do vírus foi fechar temporariamente as escolas. Essa interrupção não foi insignificante: as escolas latino-americanas ficaram fechadas, em média, por quase um ano e meio. Há uma grande preocupação sobre os futuros custos econômicos desses fechamentos. 

A crise gerou perdas importantes de aprendizado que, se não forem remediadas, também causarão uma alta nas taxas de evasão escolar. Em ambos os casos, o resultado é uma ruptura drástica na formação de capital humano, que afetará sobremaneira a aquisição de habilidades por aqueles que permaneceram no sistema. O resultado: as crianças afetadas pela pandemia provavelmente iniciarão a vida adulta com menos habilidades do que poderiam ter e, consequentemente, a expectativa é de que recebam uma remuneração menor ao longo da vida.

Tanto os modelos globais de projeção quanto os estudos empíricos estimam que os custos econômicos das sociedades oriundos dessas perdas de aprendizagem podem ser enormes. Mas essas perdas são suficientes para afetar a situação de pobreza desses alunos no longo prazo? 

Um estudo recente do Banco Mundial, O impacto da Covid-19 na educação na América Latina: implicações a longo prazo sobre a pobreza e desigualdade (em inglês), nos dá uma perspectiva sobre essa questão com base no banco de dados da SEDLAC. O relatório retrata uma situação terrível para o futuro. 

A pandemia de Covid-19 pode acarretar um aumento considerável da pobreza de renda no futuro para a parcela atingida pelo choque. Em 2045, os impactos projetados seriam um aumento de 1,7 ponto percentual (pp) na taxa de pobreza (linha de pobreza de US$6,85/dia, tendo como base a paridade do poder de compra – PPP – do ano de 2017). Se extrapolada para toda a população da América Latina e do Caribe (ALC) entre 30 e 45 anos de idade, quando os jovens afetados pela pandemia estariam aproximadamente no auge da idade para o mercado de trabalho, quase 5 milhões de pessoas entrariam na pobreza se medidas de compensação (mudança para aulas on-line, entrega de laptops aos alunos, o tempo dedicado pelos pais ao ensino etc.) não tivessem sido implementadas pelos pais, governos ou ambos.

Padrões da incidência da pobreza ao longo do tempo depois da pandemia

Padrões da incidência da pobreza ao longo do tempo depois da pandemia
Fonte: Bracco, et al. (2022)  
Observação 1: Sem ajuste: valores levam em consideração a falta de resposta do governo ou dos pais à perda de dias letivos durante a pandemia. Ajuste total: valores levam em consideração a resposta do governo ou dos pais à perda de dias letivos durante a pandemia 
Observação 2: Linha de pobreza de US$6,85 ao dia, tendo como base a paridade do poder de compra (PPP) de 2017.  
Observação 3: média não ponderada dos seguintes países: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, República Dominicana, Equador, El Salvador, México, Peru, Paraguai e Uruguai. 

 

Mesmo no cenário mais otimista, com a implementação integral dessas medidas, o aumento na pobreza ainda seria de cerca de 0,7pp.  O impacto seria ainda maior para os alunos que abandonaram a escola – com o aumento da pobreza estimado em mais de 10pp.

E mais importante: o estudo também mostra que o efeito negativo da pobreza perduraria por muito tempo, e só seria completamente absorvido a partir do momento que a geração mais afetada começar a se aposentar. 

Em suma, a importante lição aprendida aqui sobre a política educacional, que é condizente com os estudos anteriores, é de que o fechamento radical das escolas, instituído como medida para conter a transmissão da Covid-19, causou perdas econômicas consideráveis, e agora os esforços políticos necessários para contornar essa situação serão enormes e precisarão ser mantidos por um bom tempo.

Esta é uma lição importante para a elaboração de uma resposta política ideal caso esse tipo de choque aconteça novamente no futuro.  As políticas educacionais no pós-Covid precisariam se concentrar na redução desses déficits de aprendizagem, incluindo intervenções como programas de remediação no contra-turno escolar.

Na região da ALC, a agenda de educação pós-Covid também precisaria de compromissos renovados para reintegrar todas as crianças que abandonaram a escola; recuperar o bem-estar socioemocional dessas crianças; além de valorizar, apoiar e capacitar seus professores.

 Os sistemas de proteção social também precisariam sofrer reformas substanciais para se tornarem mais adaptáveis, aumentando seu alcance, capacidade de resposta, interoperabilidade e uso de dados para responder melhor aos choques. O Fundo para Prevenção, Preparação e Resposta a Pandemias, aprovado recentemente, é uma ferramenta importante para apoiar os países que considerem essas respostas das políticas.

Os autores agradecem as orientações de Emanuela Di Gropello, Líder de Prática para a Educação na América Latina e no Caribe.

 


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