Impulsionando a esperança das meninas da América Latina e do Caribe

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Designing Futures initiative reached about 250 students in Rio de Janeiro, Brazil Designing Futures initiative reached about 250 students in Rio de Janeiro, Brazil

Prêmio Nobel de Economia 2019, Esther Duflo enfatizou a importância da esperança para o alívio da pobreza : “Um déficit de esperança pode gerar uma armadilha da pobreza e, inversamente, a esperança pode alimentar uma saída”.

Você pode estar se perguntando: o que isso tem a ver com as meninas no Brasil e na América Latina, como o título sugere? Muito.

Mulheres jovens na América Latina e no Caribe podem ser privadas de esperança devido à pobreza, à falta de oportunidades e às normas de gênero que restringem suas opções . Elas podem se sentir incapazes de assumir o controle de suas vidas e ser agentes de mudança. Atualmente, as meninas na América Latina são propensas a três fenômenos, todos com consequências negativas para seu bem-estar futuro e o de seus filhos:

Esses fenômenos, gostaria de argumentar, estão profundamente interligados e todos têm consequências negativas para o futuro bem-estar das meninas e de seus filhos. Ser nem-nem, ter um filho na adolescência e casar-se aos 18 anos estão relacionados aos papéis tradicionais da mulher, com exclusão e falta de oportunidades.

No Brasil, tentamos abordar essas questões em uma recente iniciativa piloto do Banco Mundial com a Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro e o Promundo.

Tornando-se agentes de mudança

Novamente, o que isso tem a ver com esperança?

Antes de iniciar a intervenção piloto, realizamos um estudo qualitativo sobre o tema das mulheres nem-nem no Brasil e descobrimos que muitas vezes elas se referiam a si mesmas como receptoras em vez de agentes de mudança. Além disso, suas aspirações eram em grande parte voltadas para se tornar mãe e dona de casa, com forte impacto para a gravidez na adolescência e o casamento precoce.

Na ausência de modelos, oportunidades e sistemas de apoio, muitas jovens mulheres no Brasil - e na região em geral, especialmente aquelas que vivem na pobreza - podem desejar se tornar donas de casa em vez de mulheres economicamente independentes e agentes de seu próprio destino. Em geral, isso se deve a restrições estruturais (pobreza, exclusão, normas tradicionais de gênero).

O projeto piloto Projetando Futuros teve como objetivo apoiar as meninas a permanecer na escola e fomentar aspirações associadas à educação e ao trabalho. É bem apropriado falar sobre isso enquanto o mundo se prepara para o Dia Internacional da Menina deste ano, cujo tema é “Minha voz, nosso futuro igualitário”, e destaca a necessidade de as meninas aprenderem novas habilidades para viver um futuro escolhido por elas.

O Projetando Futuros foi implementado em duas escolas (uma no Complexo do Alemão, um conglomerado de 14 comunidades pobres, e outra no subúrbio de Cascadura, no Rio de Janeiro) para ajudar as meninas a superar obstáculos enfrentados na transição do Ensino Médio para o Ensino Superior e /ou mercado de trabalho. Cerca de 250 alunos participaram no total.

Foi desenvolvido um caderno de atividades e  um guia de treinamento para educadores, ajudando-os a promover o diálogo com seus alunos sobre relações mais equitativas entre homens e mulheres, uso do tempo e divisão de trabalho em casa, o mundo do trabalho (e barreiras e oportunidades associadas a ele) e possibilidades de educação continuada.

Os professores participantes da iniciativa Projetando Futuros discutiram formas de promover relações mais equitativas entre homens e mulheres. Foto: Seeduc RJ.
Os professores participantes da iniciativa Projetando Futuros discutiram formas de promover relações mais equitativas entre homens e mulheres. Foto: Seeduc RJ. 

Planejando o futuro agora

Após a primeira rodada de implementação, o feedback foi extremamente positivo. Os professores indicaram que o absenteísmo havia diminuído e que os alunos estavam reconhecendo o valor de concluir os estudos, bem como a importância de conseguir um emprego de boa qualidade. A escola tornou-se um local no qual os alunos experimentavam um sentimento de comunidade, onde se sentiam ouvidos, segundo a avaliação qualitativa.

“Eu planejo meu futuro agora. Eu não vou apenas esperar pelo amanhã. Agora é agora”, disse uma aluna que participou do piloto. Outras compartilharam como os meninos na sala de aula reviram suas atitudes e comportamentos sexistas em relação às colegas. “Os alunos se viram como protagonistas de suas próprias vidas”, comentou uma professora. Por fim, o diretor de uma das escolas disse: “Agora é uma aula diferente, uma história diferente, uma vontade de viver diferente”.

O desejo de ação é claro: não abordar essa questão pode não apenas trazer consequências negativas para as mulheres jovens, mas também contribuir para a criação de armadilhas de pobreza. As mulheres jovens (pobres) da região precisam ser expostas a modelos de comportamento, a oportunidades disponíveis para meninas de classe média e a ambientes educacionais que apoiem ​​seu papel de agentes de suas próprias vidas. Isso é o que buscamos no Projetando Futuros.

O fato de que essas meninas (e meninos) ganharam esperança com esse piloto se reflete em seu compromisso fortalecido em sala de aula, seu envolvimento na escola, seu melhor desempenho e sua vontade expressa de assumir o controle do que vem a seguir. Verdadeira e certamente, as restrições estruturais que esses jovens enfrentam precisam ser eliminadas ao mesmo tempo. Isso inclui melhores oportunidades educacionais, empregos, transporte seguro e creches para aqueles que já têm filhos.

A experiência muito positiva com o piloto plantou uma semente de esperança. Esperamos que a mudança seja realmente possível e que as meninas no Brasil e na América Latina, de forma mais ampla, possam ter um futuro melhor. 


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