Recuperar a terra pode ser lucrativo: esta fazenda de São Paulo mostra como

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Large scale agroforestry at Fazenda da Toca

A pecuária e a agricultura têm sido os impulsores principais do desmatamento e da degradação da terra no Brasil, utilizando práticas de uso da terra às custas do meio ambiente, causando escassez de água, perda da biodiversidade e persistência da pobreza.
 
Não há dúvida de que a restauração da terra e das florestas para reparar os ecossistemas é urgentemente necessária no Brasil. Isso é sobretudo evidente no estado de São Paulo, onde a escassez da água, causada por uma seca prolongada e bacias hidrográficas degradadas, está ameaçando a metrópole de mais de 20 milhões de habitantes. Infelizmente, devido a percepções de que a restauração da terra é proibitivamente cara, as intervenções têm sido lentas.
 
No entanto, durante uma recente missão a São Paulo vimos que a mudança está a caminho. Há também nova evidência de que práticas de agrossilvicultura desenvolvidas localmente oferecem sistemas de produção financeiramente viáveis, ao mesmo tempo restaurando o solo e a cobertura da vegetação em larga escala.
 
A Fazenda da Toca, empresa privada de São Paulo, está demonstrando a viabilidade da agricultura e agrossilvicultura de grande escala, inclusive em terras com solo altamente degradado. A Fazenda da Toca pode realmente pôr fim ao mito de que a agrossilvicultura em grande escala é inviável, demasiadamente cara e requer mão de obra intensiva para atrair o setor privado.
 
A Fazenda da Toca está apta a demonstrar que as práticas de agrossilvicultura não somente restauram áreas degradadas, mas também são mais lucrativas do que as práticas agrícolas convencionais.  Qual é o segredo de sua eficácia? Muito simples: não se trata de um enfoque ou de uma técnica únicos. Ao contrário, é uma combinação de intervenções, inteligentemente sequenciadas, que estão produzindo resultados positivos.
 
Os solos degradados são estabilizados com diferentes espécies de grama para aumentar a matéria orgânica, espécies exóticas de crescimento rápido proporcionam sombra e biomassa, ao passo que árvores frutíferas e espécies nativas de madeira de alto valor geram fluxo de caixa e retornos de longo prazo. Seguindo esses princípios – em variações e abordagens múltiplas – a agrossilvicultura na Fazenda da Toca já é lucrativa sem subsídios ou outros incentivos, mostrando que a atividade em larga escala é viável.
 
A Fazenda da Toca também experimenta inovações tecnológicas diferentes. Por exemplo, tem trabalhado em parcerias estratégicas para desenvolver tecnologias e criar equipamentos de agrossilvicultura mecanizada em parceria com empresas locais. Essa maneira de agir reduz custos e cria redes nacionais para divulgar técnicas e modelos de uso da terra financeiramente viáveis, preparando assim o cenário parar uma ampla adoção deste método.
 
Recentemente, a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura – uma coalizão de mais de 100 parceiros privados, grandes empresas e ONGs – organizou um evento para discutir a forma de acelerar a ampliação do modelo Fazendo da Toca no estado e em outras áreas do país. O objetivo da coalizão é contribuir para o recente compromisso do Brasil na COP21 de enfrentar os problemas de degradação da terra e dos recursos, bem como ajudar a cumprir até 2030 a meta nacional de restaurar 12 milhões de hectares de terras degradadas, recuperando mais 15 milhões de hectares de pastagens degradadas e assim melhorando outros 5 milhões de hectares de sistemas de cultivo-pecuária-silvicultura.
 
Um dos principais resultados desse processo singular – também aprendido de cultivos florestais de larga escala bem-sucedidos no sul do país – é o seguinte: a restauração não pode estar separada da agrossilvicultura produtiva ou de sistemas agrossilvopastoris, ou seja, o processo deve proporcionar aos agricultores renda em dinheiro logo no início do processo, ao mesmo tempo restaurando o solo e as funções ecológicas.
 
A experiência da Fazenda da Toca oferece um importante estudo de caso para a implementação do Desafio de Bonn, cuja meta ambiciosa é restaurar 150 milhões de hectares de terras desmatadas e degradadas do mundo até 2020 e 350 milhões até 2030. Até hoje, 31 países deram um passo à frente comprometendo-se a restaurar áreas degradadas. No entanto, há apenas alguns lugares em que esse esforço concentrado está em andamento, reforçado pela evidência de que a restauração em grande escala é financeiramente viável.
 
A estrutura normativa avançada do Brasil e o Código Florestal oferecem o contexto para essa meta desafiadora. No entanto, ainda precisam ser abordados: financiamento adequado, disponibilidade de sementes, mercados, conhecimento de genética e práticas de silvicultura de espécies nativas, bem como viabilidade financeira. Experiências como a da Fazenda da Toca trazem a esperança de que o Brasil possa realmente ampliar a restauração, cumprindo as metas de restauração determinadas pelo Código Florestal, bem como cumprindo os compromissos estabelecidos em suas Contribuições Nacionalmente Determinadas na COP21. 

Autores

Gregor Wolf

Gregor Wolf, program leader for sustainable development at the World Bank in Brazil

Werner Kornexl

Senior Natural Resources Management Specialist

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