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Em Moçambique, membros da sociedade civil clamam pelo fim da discriminação e violência com base no gênero (GBV)

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Photo: nooaonphoto/Shutterstock.com   Photo: nooaonphoto/Shutterstock.com

Em novembro de 2022, mulheres moçambicanas fizeram ouvir suas vozes pelas ruas de Maputo, pedindo mais respeito aos direitos das mulheres e fim da violência de gênero. A manifestação coincidiu com o início da campanha internacional "16 dias de ativismo contra a violência de gênero" e foi organizada pelo "Fórum Mulher", uma rede de defesa dos direitos das mulheres em Moçambique, focada na promoção da autonomia e solidariedade das mulheres e na defesa de seus direitos econômicos, sociais, reprodutivos e políticos por meio de coalizões nos níveis local, regional e nacional. 

Um mês depois, a equipe do projeto Mulheres, Empresas e o Direito (WBL) organizou um workshop reunindo organizações não governamentais e da sociedade civil, representantes do setor privado e profissionais do Direito em Moçambique. Nossa meta era ambiciosa: ajudar a promover a igualdade de gênero em Moçambique por meio da mobilização da sociedade civil. 

Mulheres, Empresas e o Direito é um projeto do Grupo Banco Mundial que coleta dados sobre as leis e regulamentações que promovem a igualdade de gênero em 190 economias. Com base nesses dados, compilamos um índice no qual Moçambique tem um desempenho relativamente bom. O país teve um progresso considerável ao longo dos anos, com uma pontuação de 33,75 em 1971, em comparação com 82,5 em 2023. A pontuação de Moçambique agora é maior do que a média de 2023 observada na região da África Subsaariana (72,6) e global (77,1) (Figura 1). 

Figura 1. Pontuação de Moçambique no índice Mulheres, Empresas e o Direito ao longo do tempo em comparação com a região da África Subsaariana e as pontuações globais 

Figure 1. Mozambique’s Women, Business and the Law score over time in comparison to Sub-Saharan African region and global scores
Fonte: Banco de dados Mulheres, Empresas e o Direito. Observação: os dados são atuais conforme 1º de outubro de 2022, conforme publicado na edição de 2023 do relatório Mulheres, Empresas e o Direito, publicado em 2 de março de 2023. 

Durante o workshop, discutimos o empoderamento econômico das mulheres, a participação na força de trabalho, a proteção contra a violência em casa e no trabalho, e discutimos as grandes melhorias que Moçambique fez em relação à igualdade de gênero nos últimos anos. Por exemplo, Moçambique promulgou o Código de Conduta para Instituições Financeiras e de Crédito em 2018, que proíbe a discriminação no acesso ao crédito com base no sexo ou gênero. 

Apesar desse progresso, nosso objetivo era também ouvir a sociedade civil sobre duas questões importantes: 

  • Como os dados do nosso relatório podem ajudar as organizações da sociedade civil a promover os direitos das mulheres? 

  • Quais desafios permanecem para que as mulheres participem em pé de igualdade como os homens na economia de Moçambique? 

Resumimos abaixo as percepções compartilhadas pelos participantes: 

Os dados e conclusões do relatorio Mulheres, Empresas e o Direito ajudam a sociedade civil a monitorar a legislação sobre igualdade de gênero. 

Saquina Mucavele

Saquina Mucavele, diretora executiva da Associação de Mulheres, Gênero e Desenvolvimento (MuGeDe) 

Saquina Mucavele, que lidera uma Organização da Sociedade Civil (OSC) local no país, revelou que os dados e as conclusões do WBL são ferramentas poderosas que ajudam a informar os membros da sociedade civil, permitindo um monitoramento de novas legislações, pois nem sempre estão cientes das leis que foram promulgadas. Assim, o relatório os ajuda a mapear as leis que reconhecem os direitos das mulheres e, em seguida, exigir o respeito aos direitos das mulheres e monitorar se tais leis estão sendo implementadas adequadamente. 

 

Mulheres, Empresas e o Direito desempenha um papel crucial no avanço da agenda de igualdade de gênero. 

O relatório ajuda a sociedade civil a identificar as lacunas persistentes nos direitos das mulheres. A pontuação de Moçambique de menos de 100 no índice de Mulheres, Empresas e o Direito indica que ainda há espaço para melhorias, por exemplo, nas áreas de Remuneração, Parentalidade e Pensão (Figura 2). Os participantes enfatizaram que o índice WBL é fundamental para que eles identifiquem as áreas críticas para buscarem a promoção de reformas legais. 

Embora Moçambique tenha uma legislação abrangente para proteger as mulheres em casa e no trabalho, a questão da violência ainda é uma ameaça iminente. Os participantes enfatizaram a importância do trabalho do WBL como um produto analítico e de conhecimento que aumenta a conscientização e capacita a sociedade civil e os governos a trabalharem para erradicar a violência contra a mulher. 

Figura 2. Pontuação dos indicadores Mulheres, Empresas e o Direito 2023 de Moçambique 

Source: Women, Business and the Law database Note: The data are current as of October 1, 2022, as published in the 2023 edition of the Women, Business and the Law report.
Source: Women, Business and the Law database Note: The data are current as of October 1, 2022, as published in the 2023 edition of the Women, Business and the Law report.

As organizações da sociedade civil têm uma visão empírica dos desafios para alcançar a igualdade de gênero. 

As organizações internacionais devem trabalhar em parceria com a sociedade civil para impulsionar a agenda da igualdade de gênero, pois elas entendem como a discriminação de gênero ocorre na prática no contexto de Moçambique. Os participantes relataram que há uma falta de conscientização sobre os direitos das mulheres devido à visibilidade reduzida das questões de gênero. Por exemplo, as mulheres das áreas rurais enfrentam grandes dificuldades para ter acesso à terra porque elas - e suas famílias - não estão cientes de seus direitos à terra. A falta de recursos financeiros e humanos dificulta a capacidade das OSCs de aumentar a conscientização por meio de campanhas de informação ou do envolvimento do governo. Ao trabalharem juntas, as organizações internacionais e a sociedade civil podem se beneficiar de seus conhecimentos e recursos complementares e atingir um número maior de pessoas, de governos a famílias. 

Visite o site do projeto Mulheres, Empresas e o Direito para acessar dados específicos de países e regiões, para entender a importância da igualdade de gênero para o desenvolvimento econômico e para ler nossa série de estudos de caso publicada recentemente sobre reformas bem-sucedidas para a igualdade de gênero na África Subsaariana.  

A equipe do Mulheres, Empresas e o Direito agradece à William and Flora Hewlett Foundation por seu generoso apoio a uma série de workshops de engajamento da sociedade civil e do setor privado na África Subsaariana.  


Autores

Natália Mazoni Silva Martins

Private Sector Specialist; Women, Business and the Law

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