De vez em quando, encontramos alguém que nos faz mudar completamente de perspectiva. Para mim, esse alguém é a Lídia Calcao.
Conheci a Lídia numa pequena aldeia chamada Mudima Sede, em Cafumpe, escondida no distrito de Gondola, na província de Manica, em Moçambique. Ela tem 37 anos, cheia de energia e é o tipo de mulher que não fica à espera de oportunidades — cria-as. E deixem-me dizer-vos, o que ela está a fazer na sua comunidade é nada menos do que transformador.
A Lídia estava, como muitos agricultores da sua aldeia, presa a uma agricultura de subsistência, num ciclo de baixa produtividade e extrema pobreza. A Lídia não tinha acesso a insumos de qualidade (como sementes ou fertilizantes) nem a mercados. As infra-estruturas eram más e não existiam mentores. Mas mesmo nesse ambiente, a Lídia manteve vivo um sonho: tornar-se uma agricultora semicomercial que pudesse ajudar outros a seguirem o mesmo caminho.
E em 2018, percebeu que o futuro começa aqui e deu o seu primeiro passo corajoso.
Reuniu 25 agricultores da sua comunidade — pessoas que partilhavam o seu desejo de progredir, aprender e crescer. Juntos, formaram um grupo, e algo fantástico começou a acontecer. Começaram a partilhar ideias, a discutir os desafios que enfrentavam e a pensar em formas de se ligarem aos mercados e aos serviços de extensão agrícola. Lenta mas seguramente, tornaram-se um pequeno motor de mudança.
E adivinhem? As pessoas começaram a aperceber-se.
Em 2022, os esforços da Lídia chamaram a atenção da Luteari, uma empresa agrícola local que apoia os pequenos agricultores com assistência técnica, acesso a insumos e ligações ao mercado. A Luteari tinha vindo a expandir as suas operações com a ajuda de subvenções de contrapartida através do Projecto de Paisagem Agrícola e de Recursos Naturais de Moçambique, financiado pelo Banco Mundial. Tinha criado uma rede de 21 centros de agentes nas províncias de Manica e Sofala, alcançando mais de 23.000 agricultores — 70% dos quais mulheres e 58% jovens.
A Lídia era exactamente o tipo de agente de mudança que eles procuravam.
Actualmente, a Lídia é uma agente comunitária da Luteari e está a fazer um trabalho incrível. Apoia 210 agricultores na sua aldeia, dos quais 118 são mulheres e 91 são jovens. As suas pequenas instalações funcionam como um balcão único: vende insumos certificados, agrega produtos, oferece formação e, ainda mais importante, proporciona um espaço onde os agricultores se podem reunir, aprender e partilhar conhecimentos.
E está a funcionar.
Os agricultores têm agora acesso a melhores sementes e fertilizantes. Vendem os seus produtos a bons preços, porque a Lídia negoceia em seu nome e liga-os directamente à Luteari. Agora há uma maior variedade de culturas, melhores colheitas e menos insegurança alimentar. Toda a aldeia está a fervilhar de actividade - estão a surgir novos negócios: moto-táxis, pequenas mercearias, serviços de moagem e até agentes de carteiras electrónicas. É como ver uma economia rural ganhar vida em tempo real.
A Lídia ganha uma comissão de 10% sobre os insumos que vende e os produtos que ajuda a comercializar. Mas, para ela, não se trata apenas de rendimentos. Trata-se de dignidade, de capacitação e do efeito de cascata que surge quando ajudamos os outros a ter sucesso.
Eis o que aprendi ao observar a Lídia em acção:
- Quando o sector privado se junta à liderança comunitária, a magia acontece. O modelo da Luteari com a utilização de agentes baseados nas aldeias mostra como a agricultura sustentável pode ser construída de baixo para cima — com um impacto real na produtividade e nos meios de subsistência.
- As infra-estruturas são um factor de mudança. Aquele pequeno edifício na aldeia da Lídia não é apenas uma loja — é um centro de conhecimentos, de ligação e de oportunidades.
- Os agricultores são mais fortes quando se juntam. A acção colectiva deu-lhes poder negocial, um acesso mais fácil aos serviços, uma voz mais forte e mais oportunidades de sucesso.
- Um financiamento inteligente abre um grande potencial. As subvenções de contrapartida deram à Luteari o impulso necessário para se expandir e investir nas comunidades. O retorno? Um negócio próspero e agricultores capacitados.
Embora o projecto do Banco Mundial tenha terminado oficialmente em 2023, a dinâmica continua. De facto, está a acelerar. O sucesso da Lídia, e de outros como ela, está a atrair mais parceiros de desenvolvimento. Os agentes baseados nas aldeias estão a evoluir para se tornarem microempresas. Os rendimentos dos agricultores aumentaram mais de 40%. A Luteari já criou mais de 90 postos de trabalho e está a planear quintuplicar as suas operações, com metas ambiciosas no domínio do processamento e da exportação.
Conhecer a Lídia lembrou-me que as verdadeiras mudanças nem sempre vêm de cima — muitas vezes começam com uma pessoa corajosa numa pequena aldeia, com um grande sonho e que põe mãos à obra.
Se isso não é inspirador, então não sei o que poderá ser.
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