Elevar as fundações sem rebaixar o tecto: Como utilizar o guia do professor para facilitar o ensino de alta qualidade

Para que seja eficaz, o desenvolvimento profissional dos professores tem de ser bem-sucedido na mudança dos seus comportamentos na sala de aula. Para que seja eficaz, o desenvolvimento profissional dos professores tem de ser bem-sucedido na mudança dos seus comportamentos na sala de aula.

Este produto faz parte de um conjunto de ferramentas para que países e partes interessadas apoiem o desenvolvimento profissional dos professores. Pode consultar esta hiperligação para saber mais sobre o programa Coach, a iniciativa emblemática do Banco Mundial relativa ao desenvolvimento profissional em serviço de professores.

Para que seja eficaz, o desenvolvimento profissional dos professores tem de ser bem-sucedido na mudança dos seus comportamentos na sala de aula. É por isso que o desenvolvimento profissional é tão desafiante, exigindo que os professores abandonem velhos hábitos e os substituam por novos, por vezes contendendo também com novos currículos, novos materiais, e mesmo novas formas de ensino, como o ensino híbrido ou à distância.

Para que os comportamentos se transformem em hábitos, as acções precisam ser estimuladas e tornadas tão fáceis adaptar quanto possível. Os professores desempenham múltiplas funções, esperando-se que produzam resultados cognitivos elevados e que equilibrem as interacções socioemocionais complexas de uma sala de aula. Apoiar os professores significa, entre outras coisas, apoiar a sua tomada de decisões na sala de aula, tornando, em última análise, o seu trabalho um pouco mais simples.

Os Guias do Professor apoiam a tomada de decisões na sala de aula. Os Guias do Professor (GP) são um conjunto de planos de aula para professores (às vezes designados por planos de aula com roteiro ou estruturados). Os GP são uma forma de "elevar as fundações" da qualidade do ensino em aula, apoiando os professores no processo de representação dos currículos – simplificando a tarefa de ensinar por se concentrarem em como ensinar e não apenas no que ensinar. GP bem concebidos dão mais tempo aos professores para se dedicarem aos aspectos socioemocionais da aula e personalizarem a aprendizagem, sem rebaixar o "tecto" de um ensino de alta qualidade. 

Os GP são uma das maneiras mais eficazes e económicas para melhorar os resultados do ensino. Foi demonstrado por estudos que o uso de um GP eficaz aumenta a taxa de respostas correctas dos alunos dentro do tempo de aula, aumenta o tempo dos alunos em tarefa e melhora os seus resultados de aprendizagem. O Painel Consultivo Global de Evidência em Educação, convocado pelo Banco Mundial e pelo Gabinete de Assuntos Estrangeiros, Commonwealth & Desenvolvimento do Reino Unido (FCDO) designou os GP com planos de aula estruturados como uma "Boa Compra" – o que significa que há evidências sólidas de que esta intervenção pode ser "altamente económica numa diversidade de contextos". Podem ter um impacto especialmente importante nos países de rendimento baixo e médio, onde os professores têm menos formação e menos qualificações académicas. Na verdade, os GP não são uma solução permanente, e a ambição de prazo mais alargado dos sistemas educativos deve ser a redução gradual da sua utilização à medida que aumenta a experiência dos professores.

Nem todos os GP são iguais, e alguns são melhores que outros. O programa Coach do Banco Mundial criou a Ferramenta de Diagnóstico de GP com o objectivo de avaliar alguns aspectos de qualidade de GP da 1ª à 4ª Classe do ensino primário. Esta ferramenta afere a facilidade de uso (isto é, como o guia ajuda os professores a leccionar os conteúdos) e a qualidade das práticas pedagógicas indicadas para cada aula. Apresentada na forma de uma lista de verificação, a Ferramenta de Diagnóstico facilita o reconhecimento da presença ou ausência de componentes essenciais e recomendáveis nos GP. A Ferramenta de Diagnóstico avalia os GP com base em dois conjuntos de critérios: Critérios do Guia que analisam a organização geral, estrutura e nível de roteirização n GP no seu todo, e Critérios da Aula, que avaliam a configuração, estrutura e práticas pedagógicas gerais nas aulas individuais.

Um exemplo de boas práticas do PG: Os PG requerem, muitas vezes, a inclusão de diferentes "vozes" numa aula – o que o professor lê para si, e o que o professor lê em voz alta para os alunos. Um exemplo de como estas duas "vozes" estão claramente demarcadas pode ser visto neste exemplo extraído do GP para 1ª Classe da Libéria. Neste caso, o PG indica claramente o que deve ser dito e o que deve ser lido, recorrendo a "Diga" e "Pergunte". A mudança de voz é sinalizada, tornando a sua implementação mais fácil para o professor durante a aula.

Fonte: USAID e Ministério da Educação da Libéria. 2019. Série de Guias do Professor e Cadernos de Exercícios do Aluno para Educação Acelerada de Qualidade, Literacia, Nível 1, 1º Semestre. Monróvia: Licença da USAID e Ministério da Educação: Creative Commons Attribution CC BY 4.0 IGO
Fonte: USAID e Ministério da Educação da Libéria. 2019. Série de Guias do Professor e Cadernos de Exercícios do Aluno para Educação Acelerada de Qualidade, Literacia, Nível 1, 1º Semestre. Monróvia: Licença da USAID e Ministério da Educação: Creative Commons Attribution CC BY 4.0 IGO

Um exemplo menos bom de um GP: Abaixo, as instruções aos professores estão misturadas com perguntas dirigidas ao aluno. Por exemplo, a lista de actividades é uma combinação de instruções voltadas para o professor ("Demonstre aos alunos como medir o comprimento da secretária do professor usando um lápis") e perguntas voltadas para o aluno ("Quantos lápis de comprimento têm as carteiras dos alunos?"). A mudança de voz não é sinalizada, o que quer dizer que os professores têm de distinguir no momento entre o que devem dizer em voz alta e o que devem ler para si próprios, ficando o seu seguimento mais difícil para os professores, resultando, em última análise, em impacto na qualidade do ensino.

Fonte: Adaptação retirada de um GP existente revista pelo autor
Fonte: Adaptação retirada de um GP existente revista pelo autor

Outra boa prática encontrada na literatura é a diminuição gradual da roteirização do início ao fim do ano. Este tipo de estrutura permite aos professores construírem uma base forte no início do ano, com conteúdos com roteiros mais detalhados, ajustando o nível de roteirização à medida que cresce a sua confiança no ensino à turma e nos conteúdos no decurso do ano. O exemplo abaixo, tirado do GP da 1ª Classe do Quénia, mostra como um GP diminui a roteirização e se torna mais aberto à medida que o ano avança.

Fonte: Departamento de Educação Quénia. 2016. Actividade de Leitura Tusome nos Anos Iniciais: Guia de Inglês do Professor. Elaborado por RTI International e produzido com o apoio da USAID e licenciado ao abrigo da Licença Internacional Creative Commons Attribution 4.0.
Fonte: Departamento de Educação Quénia. 2016. Actividade de Leitura Tusome nos Anos Iniciais: Guia de Inglês do Professor. Elaborado por RTI International e produzido com o apoio da USAID e licenciado ao abrigo da Licença Internacional Creative Commons Attribution 4.0.

Estes não são apenas exemplos isolados de diversidade entre GP. Um estudo da RTI de 2018, que fez o levantamento dos GP de 19 programas em 13 países, encontrou uma enorme variação entre vários indicadores. Por exemplo, o número médio de palavras por aula por programa variou de 154 a mais de 3.600. O número médio de páginas por aula variou de 1 a 11 e o número médio de actividades de 1,25 a 15,5. A diversidade de GP nesta amostra de programas mostra que faltam, e são necessárias, orientações sobre o que constitui a sua qualidade.

A Ferramenta de Diagnóstico de GP avalia aspectos importantes da qualidade dos GP existentes e dá orientações sobre como desenvolver um novo conjunto de guias. A Ferramenta de Diagnóstico oferece critérios deliberadamente avaliativos que se baseiam em evidências de implementação e pesquisa para fazer recomendações de melhoria. Exemplos dos GP de domínio público existentes em países de rendimento baixo e médio (como acima) demonstram que cada um dos critérios constitui padrões de excelência atingíveis. A Ferramenta de Diagnóstico também indica a literatura de apoio e evidências de pesquisa para cada um dos critérios nela definidos. Os formuladores de políticas, designers de programas e outros intervenientes educativos que procuram usar os GP como parte de uma intervenção podem alavancar a Ferramenta de modo a assegurar que os guias dêem a orientação adequada e necessária aos professores para conduzir a melhores resultados dos alunos.

A pandemia da COVID-19 exacerbou a crise do ensino, sendo claro que pode ser necessário um ensino acelerado e/ou a reestruturação dos currículos académicos no regresso dos alunos à escola. Para fazer face a este problema, a Ferramenta de Diagnóstico foi desenvolvida considerando e adequando a sua aplicação a necessidades de ensino acelerado (por exemplo, as orientações para a duração média das aulas foram desenvolvidas prestando atenção às necessidades de recuperação pós-COVID-19). Além disso, dá recomendações sobre como incorporar a orientação pedagógica explícita nos GP, o que será particularmente fundamental para professores cujo desenvolvimento profissional foi afectado pela pandemia. Hábitos e conteúdos terão de ser reapreciados e, em alguns casos, reaprendidos, e os GP terão um papel importante a desempenhar para melhorar e acelerar o ensino no rescaldo da pandemia.

Os autores da Ferramenta de Diagnóstico de GP incluíram uma vasta gama de pontos de vista e vozes sobre boas práticas relativas a GP em todo o mundo. Agradecemos a todos os que participaram no nosso processo de consulta e nos deram a sua opinião sobre como tornar a Ferramenta e as orientações que ela oferece abrangentes, claras e úteis para os utilizadores. Pode continuar a entrar em contacto connosco através do endereço de correio electrónico coach@worldbank.org, para partilhar as suas ideias e envolver-se com o nosso trabalho!

Poderá encontrar a Ferramenta de Diagnóstico de PG e a Ficha de Pontuações nestas hiperligações.

Leitura adicional:


Autores

Elaine Ding

Analyst, Education Global Practice

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