Drones a serviço do desenvolvimento: ajudando a AL&C a superar obstáculos

Drones a serviço do desenvolvimento: ajudando a AL&C a superar obstáculos Estrada do Rio Grande do Norte, Brasil, monitorada por um drone. Foto: Banco Mundial

Imagine viver em uma comunidade rural onde o acesso a mercados e serviços essenciais é um desafio diário. Na América Latina e no Caribe (AL&C), cerca de 18% da população, ou seja, 120 milhões de pessoas, enfrentam essa realidade devido à infraestrutura viária precária e à falta de conectividade. As tempestades frequentes transformam as estradas em rios intransitáveis, enquanto as secas esgotam as vias fluviais, interrompendo o acesso a alimentos, serviços de saúde e educação. Esse problema não afeta apenas as áreas remotas; tanto as cidades quanto as zonas rurais enfrentam lacunas de infraestrutura e desafios na resposta a desastres. 

Os drones estão emergindo como uma solução inesperada, mas poderosa. Antes considerados apenas brinquedos tecnológicos, agora estão combatendo problemas críticos na América Latina e no Caribe. Drones entregam medicamentos e alimentos em áreas inacessíveis, monitoram desastres, ajudam agricultores e inspecionam pontes danificadas. Onde estradas ou vias fluviais falham, os drones conseguem chegar de forma rápida e eficiente, evitando a necessidade de projetos de infraestrutura caros e de longo prazo. 

No entanto, barreiras significativas ainda persistem. Apesar do enorme potencial, a região enfrenta diversos desafios: falta de conhecimento público sobre suas capacidades, financiamento limitado para projetos inovadores, um ambiente empresarial complexo, dificuldades nas contratações públicas, regulamentações insuficientes e baixa capacidade institucional das autoridades de aviação civil. 

As principais perguntas que surgem são: 

  • Qual é o nível atual de adoção e desenvolvimento da tecnologia de drones na AL&C? 
  • Qual é o papel das regulamentações no seu crescimento? 
  • Quais aplicações são essenciais para os esforços de desenvolvimento regional? 

Responder a essas perguntas é crucial para desbloquear o potencial dos drones. Essa tecnologia não só pode conectar comunidades isoladas, mas também transformar setores-chave e superar os desafios históricos de desenvolvimento na América Latina e no Caribe. À medida que a tecnologia dos drones avança, mudanças revolucionárias são vislumbradas em setores cruciais como saúde, agricultura e gestão de desastres. 

A análise do Banco Mundial sobre drones na AL&C 

De 2021 a 2023, o Banco Mundial realizou uma análise abrangente sobre a tecnologia de drones em 35 países da AL&C, incluindo estudos detalhados na Guatemala, no Brasil e no Haiti. O objetivo foi avaliar como os Sistemas Aéreos Não Tripulados (UAS, ou drones) impactam setores-chave, fornecem informações sobre seu desenvolvimento e orientam os tomadores de decisão do setor público. O estudo analisou níveis de adoção, papéis regulatórios, casos de uso e estratégias para promover o uso de drones diante dos desafios de desenvolvimento. Os resultados culminaram na publicação do relatório Drones for Development: Overview of Opportunities in Latin America and the Caribbean. 

Resultados principais: Uso de drones na AL&C 

Os drones estão sendo utilizados para o desenvolvimento na América Latina e no Caribe, mas como eles são empregados na região? O seu uso varia significativamente. O estudo revelou diferentes níveis de adoção de drones na região. Brasil, México e Uruguai integraram drones em setores como agricultura e mineração, liderados principalmente pelo setor privado. Enquanto isso, muitos países do Caribe estão nas fases iniciais de adoção, onde o setor público desempenha um papel crucial no avanço dessa tecnologia. 

Existem cinco áreas-chave onde os drones podem ter um impacto significativo no desenvolvimento: 

  • Saúde: Entrega de medicamentos e suprimentos médicos para áreas remotas e de difícil acesso. 
  • Agricultura: Monitoramento de culturas e otimização do uso de recursos. 
  • Gestão de riscos de desastres: Resposta rápida e avaliação de danos. 
  • Manutenção de infraestrutura: Detecção precoce de problemas em rodovias e pontes. 
  • Restauração de habitats: Reflorestamento e monitoramento de áreas protegidas. 

Esses exemplos demonstram que os drones oferecem uma vantagem competitiva em relação aos métodos tradicionais, acelerando o desenvolvimento. 

Desafios e barreiras regulatórias 

Um grande desafio para a adoção de drones na AL&C é a regulamentação. Embora cerca de 75% dos países da região tenham estabelecido algum tipo de regulamentação para drones, a maioria ainda está em estágios iniciais. Enquanto Brasil e México lideram com estruturas avançadas, muitos países precisam adaptar suas regulamentações para permitir um uso mais amplo e seguro. 

O público desempenha um papel fundamental na criação de regulamentações que fomentem a inovação sem comprometer a segurança. Sem regulamentações claras e atualizadas, muitos países terão dificuldade em implementar soluções avançadas com drones, atrasando seu potencial de crescimento na região. 

Olhando para o futuro 

Para que a AL&C aproveite plenamente o potencial dos drones, os governos devem liderar com regulamentações claras, incentivos à inovação e uma visão de longo prazo. Países como Brasil, Haiti, El Salvador e Guatemala já demonstram interesse em como a tecnologia de drones pode enfrentar os desafios regionais. No entanto, é necessário um esforço coordenado entre o setor público, a indústria privada e a academia para maximizar o impacto dos drones e melhorar a vida de milhões de pessoas. 

Este é o início de uma conversa importante sobre como os drones podem transformar setores-chave na AL&C e apoiar os objetivos de desenvolvimento. O futuro dessa tecnologia promete grandes avanços para a região, mas o sucesso dependerá de uma liderança pública sólida e esforços coordenados. 


Adriana Ormazabal Caballero

Consultora de transporte no Banco Mundial

Carlos Bellas Lamas

Especialista sênior em Transportes

Fabian Hinojosa

Senior Transport Specialist at the World Bank

Carlos Murgui Maties

Transport Specialist and Climate Change Focal Point for the World Bank

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