Publicado em Africa Can End Poverty

Um caminho de oportunidades em Moçambique: Pagamentos digitais G2P e inclusão financeira para resiliência social

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Mozambique Social Assistance Beneficiaries receiving program information during payment event. Mozambique Social Assistance Beneficiaries receiving program information during payment event.

Nos países africanos, os programas de Proteção Social (PS) têm crescido constantementenas últimas duas décadas, e especialmente em resposta ao COVID-19. Como resultado, os países da região estão se inclinando para a diversificação e inovação, para adotar mecanismos mais eficientes de entregar dos benefícios do PS. Por exemplo, Zâmbia, Togo, Etiópia e Moçambique.

A ‘digitalização ponta-a-ponta’, e a melhoria da experiência do cliente, são considerados essenciais para a efetividade do sistema de pagamentos. Os pagamentos digitais podem reduzir custos e melhorar as condições para uma entrega atempada da assistência, sobretudo em contextos de emergências. Ainda, os pagamentos digitais permitem a abertura de mais portas de entrada para inclusão financeira e o empoderamento econômico dos mais vulneráveis, sobretudo mulheres, que tendem a ter menor acesso a instrumentos que possibilitem sua autonomia financeira. E, finalmente, aumentar o impacto das transferências de dinheiro aumentando a resiliência, as oportunidades e, assim, o nível de bem-estar dos mais vulneráveis. Figura 1.

Evidências internacionais mostram que certas áreas podem ser vitais para o avanço da digitalização de pagamentos em um país, como identificação e registro (uso de bancos de dados existentes); expansão de pontos de levantamento (cash-out); simplificação de processos e requisitos de identificação (Know-Your-Customer) para abertura de contas bancárias; e aprovar leis que assegurem a criação de ‘contas básicas’, sem custo de manutenção.

Figura 1 Caminho para potencializar os impactos das transferências de dinheiro por meio de pagamentos digitais G2P

Caminho para potencializar os impactos das transferências de dinheiro por meio de pagamentos digitais G2P

Em Moçambique, a digitalização dos pagamentos tem sido fundamental para fortalecer os sistemas de PS. A resposta do Governo de Moçambique (GdM) à COVID-19 permitiu triplicar a cobertura nacional de PS, de 520.000 para 1,7 milhões de agregados familiares, através do Programa de Apoio Social Directo Pós-Emergência (PASD-PE). A resposta é implementada pelo INAS sob a orientação política do MGCAS; por meio do Projeto SP e do Projeto de Proteção Social e Resiliência Econômica, apoiados pelo Banco Mundial (BM) e pelo Fundo Fiduciário de Doadores Múltiplos (MozSP MDTF) financiado pelo Reino Unido, Suécia e Holanda.

Moçambique está a implementar quatro mecanismos de pagamento: dinheiro entregue através de uma Aplicação de Pagamento Offline (OPA); smartcards e ATMs móveis; transferências através de carteiras de dinheiro móvel com o apoio do PMA e UNICEF; e pagamentos digitais ‘ponta-a-ponta’ através do Sistema de Pagamentos Alternativos (SPA). O GdM desenvolveu o SPA, apoiado pelo Projeto de Inclusão e Estabilidade Financeira – posicionando Moçambique na fronteira dos sistemas de pagamentos digitais. O SPA permite a integração do sistema de informação do INAS com empresas de dinheiro móvel e bancos comerciais, e facilita a tecnologia para que os beneficiários possam escolher, no futuro, o prestador de serviços mais conveniente para eles (Figura 2). Análise preliminar indica que o SPA está trazendo importantes economias de custos em comparação com outros mecanismos: 1 comparado com até 20 por cento da transferência média de dinheiro.

Figura 2: Infraestrutura comum do SPA em Moçambique, com múltiplos programas + múltiplos provedores de serviços

Infraestrutura comum do SPA em Moçambique, com múltiplos programas + múltiplos provedores de serviços

O GdM está comprometido com a digitalização de pagamentos e expansão de inclusão financeira para os mais vulneráveis: atingiram cerca de 77.000 beneficiários na fase 1 de resposta à COVID-19 e espera-se que continuem crescendo para programas de emergência e regulares. No entanto, como em muitos países, persistem desafios para tornar o atual ambiente de pagamentos G2P mais propício. Os principais desafios são as restrições regulatórias financeiras e legais (documentos necessários para abertura de contas bancárias); a baixa inclusão financeira da população (43% da população), especialmente para as mulheres; e pontos de acesso financeiro formal limitados (só em metade das localidades). Outros desafios estruturais são a baixa cobertura do Cadastro Social (menos de 30% da população vulnerável); baixa conectividade (40% das localidades sem rede); e baixa cobertura do registro populacional (39% da população sem identificação).

Ferramenta PPD – Resultados preliminares
Ferramenta PPD – Resultados preliminares

Dados preliminares de uma pesquisa sobre a resposta à COVID-19 mostram oportunidades importantes para a adoção de pagamentos digitais, especialmente em áreas urbanizadas. Cerca de 80% e 71% dos entrevistados já possuem um telemóvel e uma conta de dinheiro móvel respetivamente, 70% têm um documento de identificação nacional e 55% preferem receber o benefício diretamente numa conta móvel (em comparação com dinheiro ou outros meios).

Em colaboração com o MGCAS/INAS, o BM está desenvolvendo uma ferramenta, Prontidão para Pagamentos Digitais (PPD), que visa informar a expansão dos pagamentos digitais. Com base em recursos pré-identificados, o PPD atribui um nível de prontidão (baixo, médio, alto) no nível da localidade para determinar a abordagem de pagamento mais adequada (por exemplo, pagamentos digitais com mecanismo múltiplo ou único, parcialmente digitalizado ou manual). Ver Mapa. O PPD pode ser facilmente atualizada e usa dados nacionais sobre localização de serviços financeiros, cobertura de rede e o Censo de 2017. Esses esforços fazem parte de esforços analíticos mais amplos, apoiados pelo MozSP MDTF e a Iniciativa G2Px – para extrair lições dos mecanismos de pagamento implementados pelo MGACAS/INAS e desenvolver ferramentas para a expansão dos pagamentos digitais.


Autores

Anna Machado

Social Protection Program Policy Officer, World Food Programme

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